domingo, 6 de abril de 2014

22 anos e 22 lições.

16 - Drama é algo dispensável. Muita gente gosta de sofrer. Acredito que inclusive, todo mundo tem uma tendência a curtir um sofrimento. Há até quem faça do sofrimento um sentido para a sua vida. Mas a verdade que as experiências da vida vão nos mostrando é que a vida já é bem difícil sem a nossa ajuda. Então, se as dores e perdas fazem parte da nossa existência, apegar-se a essas dores e alimentá-las é uma escolha que eu só posso entender , cada vez mais, como uma escolha errada (sim, serei ousada o suficiente para falar em certo e errado, esse ponto merece). É preciso se desapegar do drama. E para isso é preciso uma certa humildade para reconhecer, por exemplo, o quanto nós gozamos e nos sentimos até queridos , por outras pessoas, através dos dramas que criamos ( no caso, quando as pessoas cedem a eles.). Há quem nunca queria realmente se desligar desse lado dramático da vida e das relações, mas para mim, drama só tem me cansado cada vez mais e tenho entendido esse tipo de coisa, como uma perda de tempo. Temos que desapegar dos nossos dramas solitários também, que não envolvem os outros. Se livrar da tendência a piorar tudo que acontece conosco, ou a radicalizar as situações que vivemos, assumindo uma visão fatalista de mundo. Reforço: a vida já é difícil sem que a gente ajude a dificultar. E se relacionar com as pessoas, idem. Claro que o princípio do equilíbrio vale aqui para nos lembrar de que evitar o drama não vale se temos que chegar ao ponto de nos tornarmos insensíveis. Mas dramatizar tudo a gente deixa pras obras de ficção. Na vida, drama só exaure.

17- Nem toda companhia é válida. E essa não é uma conclusão fácil, que diz respeito a uma questão de sintonia maior ou menor com as pessoas. Por motivos óbvios, não são todas as companhias que vão nos agradar. Mas entre as que nos agradam, é preciso aceitar que nem todas valem a pena. Há gente que vamos conhecer e que nos farão mais mal do que bem, ainda que os momentos bons sejam realmente bons. Ao invés de insistir nelas, é melhor se afastar. E muitas vezes, é preciso uma certa frieza para isso, uma vez que podemos acabar gostando bastante de pessoas que nos fazem mal. Mas senso de autopreservação não é falta de amor. Muito pelo contrário. Quando nos preservamos aí sim estamos dando uma prova de amor para quem gosta de nós, nos tornando realmente preparados para amar e cuidar gentilmente das pessoas, sem a urgência de uma dependência do amor alheio para amarmos a nós mesmos – dependência essa  que muitas vezes nos leva a cometer atos invasivos, de exigência do amor do outro. Então acho que é possível e produtivo encarar a frieza que é necessária para nos afastar de quem nos faz mal, como algo bom e até como uma prova de amor àqueles que nos fazem bem. Há muita gente por aí que não vale a pena, mas tenho aprendido principalmente sobre as pessoas que querem construir relações sem reciprocidade, porque acreditam que o mundo gira em volta delas e tudo na existência está deveria estar disposto para atender às suas necessidades. Essas são pessoas normalmente muito egoístas e são as que pra mim não valem muito esforço, uma vez que reciprocidade vem se mostrando tão essencial para me fazer feliz.

18 - Gentileza gera gentileza. Em uma saga que marcou minha adolescência – Harry Potter – alguém, que não me recordo quem é, relata ao próprio Harry sobre como a mãe do órfão, que ele nunca chegou a conhecer, era gentil. Então, essa mesma pessoa , faz um comentário que muito me marcou. “A gentileza é uma qualidade subestimada.”. Eu não poderia concordar mais. Falta gentileza no nosso mundo. O preço pela quebra de muitas convenções sociais que se constituíam em um excesso de gentileza que beirava a hipocrisia, talvez tenha sido a constituição de um cenário em que muitas pessoas acreditam que para se afirmarem, precisam jogar “verdades na cara das outras pessoas” o tempo todo. Pera lá! Que verdades são essas? E de quem são, essas verdades? Falta gentileza no mundo. Gentileza de entendermos, por exemplo, quando nos relacionamos nas pessoas que o tempo todos projetamos nossas esperanças e expectativas sobre elas. E também as nossas frustrações e complicações. Vamos dar um conselho e projetamos as nossas histórias e decepções nas histórias delas. Isso muitas vezes configura uma atitude invasiva, que não só magoa a pessoa como pode desestimulá-la a fazer o que quer. É preciso atentar mais para a teoria da relatividade. Cada história é uma história, temos que respeitar as histórias das pessoas e sermos cuidados também com os que nos cercam, no sentido de não invadi-los. Claro que é também responsabilidade dos aconselhados seguir conselhos acriticamente, mas não há necessidade alguma de agredirmos nossos semelhantes com os traumas que já nos agridem. E vamos mais uma vez nos valer do princípio do equilíbrio. Depois de longa e cuidadosa análise, talvez ser um pouco invasivo e contundente possa sim ajudar nossos amigos (é, o princípio da relatividade também atinge a esse tipo de situação dessa forma). Além disso, há outras gentilezas que precisam ser mais cultivadas. É preciso ser gentil sim, muito mais, no sentido clássico. Nos permitirmos nos admirarmos pelas pessoas - por exemplo, um tipo de gentileza, diante do nosso egoísmo que nos faz querer se melhores e mais especiais em tudo. Daí vem a gentileza de sabermos elogiar as pessoas, sinceramente, também. É preciso também ser gentil para valorizar o que as pessoas fazem e é preciso ser gentil para com nós mesmo, para nos valorizarmos também e nos preservamos. Por último, é preciso, principalmente na vida adulta, sermos gentis no sentido de aprendermos a partilhar nossas vidas, o que também é uma espécie de gentileza, quando temos muito a fazer e porque para sermos adultos completos, é preciso cultivar uma espécie de egoísmo sobre nossos assuntos, só para depois aprendermos a abrir mão dele( mas ainda assim, é algo necessário). 

19 – A vida adulta exige certo egoísmo, retomando o que eu acabei de dizer. É preciso cultivar um egoísmo do tipo bom, na maturidade. Só assim conseguimos construir os nossos sonhos, entendendo que temos que abrir mão de compartilhar nossos momentos para investir em gozos muito pessoais e solitários. Há de se cultivar algum egoísmo também para aprender a se preservar, enquanto vamos entendendo o tipo de pessoa que não vale nossos esforços e nos faz mal e das quais temos que nos afastar. O egoísmo também tem que nascer em relação a nossa rotina, no sentido de dedicarmos mais tempo a tarefas que digam respeito à concretização dos nossos – e totalmente nossos – desejos. Em muitos momentos, isso significa abrir mão de tempo com a família, com os amigos, com o namorado. E uma resistência pode surgir por parte dos nossos entes queridos, mas é preciso persistir, lembrando sempre que só nós e nenhum deles, por mais que nos amem, podemos lidar com as consequências das nossas escolhas.

20 – Há sempre um quê de solidão na vida. Uma das coisas mais difíceis de serem aceitas por pessoas carentes (como é, muito sabidamente, o meu caso) é: a solidão é inerente à condição humana. Pela impossibilidade que existe de sermos os outros(“os outros” só existem sempre em condição de alteridade), jamais poderemos compartilhar totalmente de todas as suas impressões e dos pequenos momentos e sutilezas que fazem do outro o que ele é, que é alternante em relação ao que eu sou com minhas memórias, momentos e sutilezas. Pela singularidade de cada existência, há sempre solidão no homem. Mal podemos compartilhar coisas que são tantas vezes ativamente mostradas para nós, já que é, por vezes, muito difícil compreender as pessoas. Uma vez que aceitamos esses limites, no entanto, a solidão não parece nem tão assustadora, nem com uma condenação pessoal. Solidão faz parte. Por muitas vezes, inclusive, é saudável. Se conseguimos ficar bem e em paz, com a nossa própria solidão, sem associá-la à falta de amor e à rejeição, muita coisa na vida pode mudar. A aceitação da solidão talvez seja um dos processos mais importantes pelos quais as pessoas podem passar para se tornarem felizes. Porque nos prepara justamente para abrir mão da nossa dependência dos nossos afetos  - o que foi tão citado aqui como algo importante no caminho para levar uma vida mais feliz. Ao mesmo tempo, mais uma vez, retomo o princípio do equilíbrio. Conviver bem com a própria solidão não pode se transformar em desejar a solidão, porque isso, pela minha experiência, não passa de uma defesa para não nos expormos aos riscos de nos assumirmos como pessoas que queremos ser amadas. E nunca conheci ninguém que não quisesse (que bom!), ainda que existam pessoas que disfarcem essa vontade melhor do que outras.

21 – Ter senso de humor torna tudo mais fácil. Uma das minhas heroínas de romance favoritas é a Elizabeth Bennet de Orgulho e Preconceito. E uma das coisas mais interessantes que eu acredito que ela declarou para seu par, o sempre muito querido Mrs. Darcy, é o quanto eles são contrastantes, porque ele era muito sério e ela adorava rir. Compartilho muito disso. Gosto muito de rir e cada vez mais percebo o poder que tem os momentos de riso compartilhados, por exemplo.  Mas além de rir das coisas da vida, ter senso de humor inclui saber rir um pouquinho de si mesmo, se assumir em suas ridicularidades, sem achar isso o fim do mundo, porque todos nós somos um pouquinho ridículos e às vezes muito das nossas melhores coisas vem à tona quando estamos sendo “ridículos”. Dessa maneira, a gente consegue tirar um pouco o peso das coisas que vivemos, o que nos permite, inclusive, pensar melhor sobre elas e desfazê-las de qualquer concepção dramática que estejamos tendo.

22 – Happiness is only real when shared. Last, but not least. Tudo na vida é melhor, quando se está acompanhado. Poucas sensações são melhores, talvez nenhuma sensação seja melhor, do que aquela de que você está realmente sendo acompanhado. Uma companhia verdadeira, é difícil de se encontrar hoje em dia. Tem muita gente por aí investindo em “afeto” só pra fazer número (número de contar e número de circo) em rede social. Mas há também muitas pessoas que possuem aquela gentileza que já citei aí em cima, de compartilhar com você um pedaço das suas vidas e dos seus sonhos e com quem você pode fazer o mesmo - são elas as mais importantes de se cultivar no seu caminho. É essa gente bonita, que torce por você , como se tivesse torcendo pra si mesmo, que vibra com você, fica chateado com você, se algo dá errado e que está com você no dia-a-dia. Não estão só nos momentos bons, porque isso é muito fácil. Nem só nos momentos ruins, porque isso é sadismo. Companhia sincera e verdadeira é aquela com a qual você pode contar no seu dia-a-dia, na sua luta diária, pra compartilhar alegrias e tristezas, para ser ajudado e ajudar. Para mim, poucas coisas me fazem mais feliz do que já ter compartilhado meu caminho com companhias assim e compartilhar ainda hoje. A vida vale a pena quando pode ser compartilhada. E se o que importa dos nossos sonhos, não é exatamente o ponto de chegada, mas a jornada que traçamos, ter alguém pra te acompanhar na sua jornada , alguém que te ajude a construir seu sonho, é a coisa mais bonita que se pode ter. Não há amor mais bonito do que aquele que ajuda o ser amado a construir a independência do próprio amor. Por isso talvez o amor de pai e mãe seja o mais admirado que existe. Falo então de companhias que não inspiram nem dependência, mas inspiram coisas boas e inspiram pra vida .E viva às companhias verdadeiras, que dividem com a gente a grande aventura das lutas diárias, se preocupando conosco e dividindo conosco – a essas, aprendi que devo dar toda a minha dedicação e carinho.


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