sexta-feira, 4 de abril de 2014

22 anos e 22 lições.

10 – É preciso tentar fazer o melhor que se pode fazer. Até agora se falou em sonhos, expectativas, objetivos e perspectivas, mas vamos agora para o lado não tão bonito. Não importa o que você quer ser da vida, o que quer fazer com ela, é preciso batalhar para as coisas acontecerem. E como em toda a batalha, há muito que não é bonito, nem ideal como são as nossas expectativas. Todo sonho tem um lado cotidiano, arrastado e difícil. É preciso se esforçar todos os dias! A luta e o esforço tem que ser constantes e nós temos que nos esforçar o máximo que podemos para fazermos aquilo que nos propomos a fazer. Essa é condição essencial para se viver os sonhos que construímos para as nossas vidas, mas também para viver, de forma geral. Somente assim teremos a sensação de nos apropriarmos das nossas vidas e das nossas próprias questões, pois saberemos que estivemos inteiros ali, disponíveis para elas. É preciso dar o nosso melhor – ou ao menos, tentar dar – em tudo que fazemos. Nem sempre o nosso melhor será, é claro, o suficiente para atender nossas projeções sobre os resultados dos nossos investimentos. Ainda assim, a única forma de ter paz interior, é se saber totalmente e cada vez mais (quando não for suficiente, que se tente mais ainda!) envolvido com a própria vida. Aliás, “ser envolvido com a própria vida” pode parecer uma redundância. Como viver sem estar envolvido pela própria vida? Ledo engano achar que estar envolvido na própria vida e nas próprias questões é inerente a viver. Quantas pessoas que conhecemos que vivem em um mundo de idealizações, alheios à própria realidade? Ou quantas pessoas vivem o sintoma do eterno adiamento daquilo que querem fazer ? Quanta gente não deixa pra começar a vida no dia seguinte, todos os dias? Quantas pessoas estão vivendo a fábula da espera pelas condições perfeitas para começarem a se esforçar e caminhar em direção às coisas que tem vontade de fazer? Mas ao mesmo tempo, que sensação melhor e mais saudável pode haver do que aquela de que você está vivendo a sua vida? Que você está agindo, construindo, trabalhando e criando e não está passivo diante dos acontecimentos do mundo e daquilo que te causa? É preciso estar em dia consigo mesmo pra ser feliz e isso exige esforço, coragem para lutar contra a preguiça e vontade de viver ! Por outro lado, a condição mesma de tentar dar o melhor nas várias esferas de vivência que compõem a tessitura das nossa vidas exige que nos coloquemos limites. Dar o nosso melhor implica em um limite bem na medida do quanto podemos nos esforçar pra cada pedacinho da nossa vida sem mitigar o outro. Em alguma momentos, uma parte de nossas vidas terá prioridade, em outros, nem tanto, mas não dá para abandonar nunca o esforço de dar o nosso melhor em tudo que somos e fazemos, porque só assim somos completamente tudo que somos.

11- Ser adulto é bom. Se é preciso estar envolvido com a própria vida, não há momento mais propício pra isso acontecer do que a maturidade. Há quem passe a vida adulta se ressentindo das responsabilidades que ela implica, mas eu não poderia estar curtindo mais ser uma pessoa adulta, maior de idade e com cada vez mais responsabilidades. Quando vai chegando essa época da vida, cada vez mais nossa vivência diária vai exigindo responsabilidades de nós. O momento em si nos obriga a nos apropriarmos de coisas que antes eram resolvidas por outras pessoas para nós. Passamos a lidar com responsabilidades cada vez maiores, conhecer processos burocráticos, entender as obrigações práticas do dia-a-dia. Para mim esse processo foi ainda mais significativo pelo fato de que a minha maturidade veio com a saída de casa. Moro, a maior parte do meu ano, já há um tempo, em outra casa e outra cidade, longe dos meus pais. Isso me fez valorizá-los muito mais, inclusive, porque eu pude e posso entender, cada vez mais, a trabalheira que dá, a manutenção de uma vida adulta, em todos os pequenos detalhes que permeiam a nossa existência. E digo isso para as coisas mais ordinárias inclusive. Somos obrigados a perceber que há de se dar conta do lixo que produzimos, da manutenção e limpeza das coisas materiais que conquistamos, percebemos como a vida é cara, que é preciso garantir o pão nosso de cada diz ( seja garantindo a farinha, como preparando a massa) e que enfim, uma vida custa. Não apenas no sentido financeiro (que é um sentido bem importante, na verdade), mas custa esforço, zelo e que é preciso dar conta de nossas responsabilidades. De repente também, quando nos pegamos adultos, inúmeras novas responsabilidades vão sendo exigidas: prazos se tornam cada vez mais sérios, assim como as consequência das nossas ações e das nossas não ações. Afinal, tudo agora não é mais para um futuro distante, quando adulto você já está a todo momento, construindo sua carreira, seu futuro profissional (agora!) e que cada momento é importante para investir nessa faceta nossa que será sempre tão importante e definirá tanto do que somos (embora não possa de jeito nenhum definir tudo). Quando se é adulto, o mundo espera mais de nós, as pessoas e nós mesmo também. Há quem sofra bastante com esse novo mundo de responsabilidades, mas é possível também encarar como o momento mais propício da vida para começarmos a viver nossos sonhos. Afinal, enquanto aprendemos a ter responsabilidades maiores e mais numerosas, pegamos uma certa manhã sobre o que é assumir responsabilidade e daí em diante, podemos assumir também as responsabilidades que temos que assumir para com e por nós mesmos se queremos ser felizes. Além disso, a maturidade exige escolhas importantes: uma vez que você tem que se concentrar em construir uma carreira e algo de importante pra sua vida, que te sustente e torne independente, isso demanda tempo e concentração acerca das coisas que são necessárias para esses desejos (e até necessidades) se concretizarem. Você acaba tendo que escolher, um dia da sua vida, entre terminar o trabalho da faculdade, a leitura para monografia, entregar o relatório do trabalho no prazo certo, e ficar por exemplo, em casa curtindo uma fossa eterna por causa de uma briga com um namorado. Você percebe que não há muito mais espaço para dramas adolescentes na sua vida, porque há muitas coisas acontecendo e você não pode ficar preso aos sentimentalismos excessivos da adolescência. Aliás, você percebe que tem escolher entre ficar preso a isso e sofrer as consequências depois, ou viver sua vida e atender às suas responsabilidades. E isso é muito importante, porque aí está um ótimo material tanto para trabalharmos como tudo na vida é uma questão de escolha, como para entendermos que precisamos construir algo para nós, além da vivência das nossas afetividades  e do mundo social que costuma ser intensa na infância e na adolescência. Resumindo: os saudosistas que me perdoem, mas cheguem sua Síndrome do Peter Pan pra lá! Ser adulto é muito bom. É um momento perfeito para construirmos a nossa felicidade e nossa independência, que depois de um certo momento da vida, acabam mesmo estando muito intimamente ligadas.  11-a) Essa lição sobre a vida adulta e as responsabilidades que ela carrega me rememoram uma outra lição, essa de cunho muito pessoal, que talvez não seja válida para tantas pessoas, mas que é muito importante pra mim. Eis ela aqui: Rotina é uma coisa boa. Há que não suporte viver dela, mas para mim, criar e viver uma rotina e se esforçar para seguí-la é a melhor coisa que se pode fazer para traduzir a construção dos nossos sonhos em ações diárias que darão concretude a nossa jornada. Além disso, eu vivo um prazer imenso, beirando o irracional, em manter uma rotina (ainda que seja uma coisa realmente muito, muito difícil), pela sensação maravilhosa de consistência e constância que ela me proporciona.

12 – É preciso ter paciência. Minha mãe diz que minha bisavó sempre dizia: “É preciso ter paciência até pra sofrer”. E essa sabedoria eu levo para vida. Todo e qualquer sofrimento é duplicado pela ansiedade e toda e qualquer felicidade é diminuída pela metade, pelo mesmo motivo. Paciência talvez seja uma das coisas mais difíceis de aprender para o nosso mundo do tudo-ao-mesmo-tempo-agora, mas também é uma das mais importantes. É preciso ter paciência com nossos caminhos, que são muitas vezes tortos, é preciso ter paciência para esperar pelo que se quer, senão é possível que não se consiga, por puro cansaço, é preciso muitas vezes, paciência para as coisas irem se resolvendo, porque simplesmente há momentos em que não há nada a se fazer quando algo está ruim, é preciso paciência com as pessoas para garantir uma postura correta frente aos nossos semelhantes e é preciso paciência com nós mesmos para a gente conseguir esperar pelas transformações que acreditamos necessárias para os nossos caminhos. A vida é feita de processos e temos que respeitá-los. Mas paciência, é bom lembrar, não é passividade, não é aceitar qualquer coisa que as pessoas fazem com você, nem muito menos é benção. Paciência é treino ! Então lembremos disso sempre que possível, para a exercitarmos.

13 – Perdoar significa libertar. Falando em lições muito difíceis de serem aprendidas, mas muito importantes, é preciso lembrar do perdão. Todas as grandes e importantes doutrinas e filosofias de vida e religiosa ensinam sobre o poder do perdão. Posso falar com algum (mínimo e torto) domínio sobre a tradição cristã. Não quero fazer propaganda religiosa, até porque, não sigo nenhuma religião. Mas acredito que o que há de mais importante em cada religião é onde elas ensinam não como viver para a morte, mas sim como viver para a vida - é o caso das lições sobre perdão. É bem sabido que o tal Jesus Cristo tinha muitas e bonitas histórias sobre perdão e sobre perdoar – que era um papo muito revolucionário na sua época do “olho por olho, dente por dente” e que persiste revolucionário ainda hoje. Talvez seu mais simbólico caso de perdão seja aquele dado a Maria Madalena, quando ele se compara, enquanto pecador, à uma prostituta, o que mexe com questões que desafiam toda a moralidade da sua época, a sociedade masculina e machista em que vivia, mas também incomoda em questões muito irracionais como as que são sempre as que dizem respeito à sexualidade e moralidade. É preciso saber perdoar mesmo os casos que nos desafiam hoje, como o caso de Maria Madalena desafiou sua época. E o primeiro passo para isso talvez seja entender e compreender a condição humana como uma condição limitada, inconstante e falha. E claro, como tentou demonstrar Jesus, isso é assim para todos. Todo mundo erra sempre, todo mundo vai errar, já dizia a sábia música. Não adianta se apegar ao erro dos outros e se ressentir para sempre deles. É preciso tentar compreender as pessoas e fazer um esforço ativo para construir o perdão, entendendo, inclusive, o quanto das nossas decepções não dizem respeito a expectativas que nós mesmos criamos e projetamos nas pessoas e sobre as quais elas não tem responsabilidade nenhuma, só nós temos (isso ajuda muito para começar a perdoar). Depois disso, temos que aprender a nos colocar no lugar das pessoas, o que não é muito fácil e precisa do de um esforço relativizador e muito racional da nossa parte. Mas é um esforço que vale a pena. Perdoar as pessoas nos liberta, porque quem guarda ressentimento é quem realmente fica escravo das situações ruins. Mais importante ainda do que perdoar os outros, talvez seja a lição sobre perdoar a si mesmo. Maria Madalena, viveu como santa porque pode perdoar a si mesmo e a seu passado. É só perdoando a nós mesmo que podemos nos aceitar melhor e construir nossos caminhos longe das frustrações que tivemos com nós mesmos no passado. É preciso perdoar as nossas próprias escolhas erradas, caminhos tortos e incapacidade. Não é possível viver o que queremos se antes de construir uma coisa verdadeira estamos sempre tentando nos compensar a nós mesmo por um passado infeliz. Além disso, talvez a única maneira de aprendermos a perdoar realmente as pessoas, seja primeiro, aprendendo a nos perdoarmos. Esse história de perdão nos leva muito diretamente a um outro fato:

14 - Cultivar raiva só faz mal a quem a cultiva. Sentir raiva é uma coisa comum, e, querendo ou não, humana. Cultivar a raiva, já é outra história. O tempo passa, as coisas mudam, o choque das decepções se dissipa e isso é uma oportunidade que a vida nos dá para vivermos bem. Se escolhemos, no entanto, não nos entregarmos a esse processo natural e ficamos alimentando a raiva pelas situações ruins que aconteceram, ou os conflitos que despontaram no nosso caminho, estamos plantando a semente da autodestruição. Raiva só faz infeliz as pessoas que escolhem se apegar a ela.Todos os outros envolvidos na situação que despertou a raiva e que escolheram seguir em frente, podem até ter sido os errados da história, mas serão aqueles que poderão ser felizes. Ser feliz vale mais do que provar às pessoas de que se está certo, nas nossas situações de conflito. Até porque:

15 – Você não tem que provar nada a ninguém. Esqueça qualquer sentimento de dívida que não seja com os seus próprios princípios, os seus sentimentos e a sua vontade. Não fomos colocados e um mundo tão bonito para passarmos o resto das nossas vidas tentando provar para as pessoas que somos bons. O sentimento de que temos que corresponder às expectativas sociais sobre nós, é um sentimento baseado em uma terrível necessidade de aprovação que como nós já dizemos, é mais destrutiva do que construtiva. Não há caminhos certos e errados, há caminhos singulares e não há porque desperdiçar tempo e energia tentando provar às pessoas que somos bons, ou que somos isso, ou que somos aquilo e que as escolhas que fazemos são mais ou  menos corretas. Primeiro, porque as pessoas veem o que elas querem ver. Segundo, porque ninguém que está esperando algo de nós vai realmente alguma vez na vida viver todas as consequências que teremos que encarar se quisermos colocar a frente de nós mesmos a vontade de atender e corresponder às projeções alheias. Se há algo que você quer provar a alguém, isso tem que passar antes por você, por uma vontade sua de ser algo, ou por um princípio moral seu – e unicamente seu – ao qual você precisa corresponder. Não há ninguém no mundo que possa nos dizer o que fazer , ou a melhor forma de fazer. Não podemos colocar a nossa vida em função de provar algo nem mesmo aos nossos pais, que nos deram a vida e que muitas vezes fazem tudo por nós. Nada disso significa ser ingrato, mas a gratidão tem que ser um sentimento sincero que parta de você e não uma obrigação de provar algo a alguém, ou compensar um sentimento de dívida.

(Continua.) 

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