segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O que eu queria arrancar do meu peito.

                          Eu me lembro de uma vontade, uma urgência quase física de estar juntos. Ela aparecia nos repetidos beijos e abraços de despedida. E depois nos beijos entre as grades do portão já fechado. Você de um lado, já precisado de ir embora e eu do outro, precisada de que você ficasse pra sempre. O que aconteceu com tudo isso? Hoje em dia está muito claro que você não sente nem um pouco minha falta, depois que se decidiu, pragmaticamente, que não sentiria mais nada. Nada nas suas atitudes demonstra que você sente a mínima palha de uma leve falta minha, ou arrependimento pelas suas atitudes. Mas você sente falta de muita gente. Anda por aí distribuindo “sinto saudades” como se fosse “bom dia”. Você nunca dizia que sentia saudades minhas. Nem nos bons tempos. Será que em algum momento do seu dia, você para e pensa em mim? Alguma vez você se perguntou o que eu estava fazendo enquanto estávamos longe um do outro, ou o que eu pensava sobre você? Será que você se pergunta se estou bem, ou mal, feliz, ou triste, ou se me sinto sozinha? Será que você imaginou o que é que achei daquele filme que tanto queríamos ver e que nunca conseguimos? Absolutamente nada nas suas atitudes demonstra alguma preocupação comigo, ou com o que eu sou, ou como estou.  Na verdade, você parece é muito feliz, muito aliviado, em ter se livrado de mim. E sai por aí em rede aberta, declarando que seus trinta anos são o início de um novo ciclo? Novo ciclo longe de mim? Eu fui, então, tão prejudicial a você?
                          Eu me lembro da sensação de otimismo e alívio me abraçando quando eu te conheci e nos aproximávamos aos poucos. Então existiam pessoas como você! Que maravilha, o mundo! E o melhor: alguém como você podia gostar de mim! Eu me lembro de todas as palavras que você me dizia pra consolar minha tristeza por ter encontrado no meu caminho, pessoas frias, que me tratavam como alguém dispensável. Você dizia que elas não valiam a pena. E me contava como você entendia como eu me sentia rejeitada. Eu nos achei tão parecidos, de primeira olhar, nos detalhes grandes e nos pequenos. Os detalhes grandes eram as experiências que tivemos que nos fizeram viver o mesmo sentido de abandono e de incapacidade. Alguma vez você imaginou que me causaria o mesmo tipo de sentimento de abandono e insuficiência que essas pessoas te infligiram? E que teria a mesma postura fria, despreocupada com os meus sentimentos? Será que suas críticas a essas pessoas frias serviam apenas pro caso de você sentir que alguém agiu dessa maneira com você, embora você pense que você mesmo, por sua vez, pode agir dessa maneira com quem bem entender?
                          Eu me lembro das questões existenciais que você colocou pra mim e que me aproximaram de você, porque também eram minhas. Como eu poderia imagina que você usaria suas experiências ruins e as suas próprias questões para fazer o que bem entendesse, sem se preocupar com o sentimento dos outros? Como se você estivesse justificado em fazer tudo que queria, sem jamais olhar para o outro, por tudo que já havia sofrido. Você usa sua própria dor, que é real, convenientemente, de maneira fria e calculista para fazer o que quiser. Ou talvez tenha se deslumbrado com a ideia de que nossos sentimentos são nossas responsabilidades e de mais ninguém, para agir pensando que a dor e o sentimento de humilhação que você provoca nas pessoas com atitudes danosas reais – nada disso é sua responsabilidade. É apenas criação da cabeça alheia com a qual você não tem que lidar. Ou não é isso que você quer dizer quando me diz que eu pense o que quiser sobre você?
                          Eu me lembro também de todas as coisas bonitas que você já me disse. E a forma como você parecia interessado em participar da minha vida, dos meus assuntos. A forma como você demonstrava ciúmes de mim e como fazia plano pra nós como se me quisesse na sua vida a longo prazo. Tudo isso é vazio, agora. Você disse coisas sérias demais para que suas atitudes destoantes não denunciassem a sua falta com a verdade. Ou a sua incoerência. Uma hora você me dizia que o que explicava a nossa lamentável situação era que você nunca havia gostado o suficiente de mim para querer assumir um compromisso e nos levar a sério, no instante seguinte, me dizia que tudo que você sentia por mim era suficiente sim  e verdadeiro e que você queria ter um relacionamento de verdade comigo. E no que eu posso acreditar?                           O que mais você me dizia que não era verdade? É verdade mesmo que foi comigo a primeira vez que você pode experimentar sexo e sentimento juntos, ou você já houveram outras que escutaram a mesma coisa? É verdade também que pela primeira vez comigo você se permitiu demonstrar ciúmes? E para a próxima você dirá que não demos certo porque você nunca gostou de mim, como você me dizia, sempre tão lacônico, sobre suas ex-namoradas?
                          Me pergunto se realmente você  acredita que toda a sua dificuldade pra se entregar e acreditar que alguém goste de você pelo que você é responsabilidade sua, ou se você ainda culpa outros pela suas questões. Às vezes me parece que sim, porque senão, que outra explicação teria para alguém, que já tem consciência há tanto tempo da própria condição, escolher a mesma postura danosa? E como entender, se você realmente sente isso, fundo em você,  que diante dos meus apontamentos para as suas repetições, você diga que já sabe de tudo aquilo, mas que não mudará suas escolhas simplesmente porque não quer, porque não está a fim? Como se fosse você não soubesse que TEM – e sim, isso é um dever – fazer diferente daquilo. Como se fosse uma criança mimada. Ou será que no fundo, você ainda pensa que, em relação a mim, você se sentir como se sente é culpa da minha pouca expressividade? Chegou então à conclusão de que, depois de ter bem utilizado da minha presença para não se sentir sozinho por anos, de que sou insuficiente? Ou será que você vai justificar sua incapacidade de se entregar nas constantes críticas que eu faço ao seu comportamento? Será que você vai dizer, pra se justificar permanecer nesse mesmo lugar confortável, que tantas críticas mordazes provam que eu não gosto de você como você é? Será que você ainda confunde gostar e amar com uma postura de devoção acrítica perante o outro e que só servia pra você viver toda essa sua vontade de ser amado acima de todas as coisas?  E se você pensa assim, como eu devo encarar todas as milhares de críticas – inclusive que desvalorizavam em mim características que você valorizava em outras pessoas, como meu amor e zelo pelos animais – que você me fazia constantemente? Como mais uma prova da sua falta de sentimento por mim?
                          Houveram muitas provas da sua falta de sentimento por mim. Seus caprichos, a forma como você me dizia que eu tinha que ser “assim, ou assado” e agir de determinada maneira porque você precisava e se não fosse desse jeito, não seria de outro. Você não tinha nenhum medo de me perder. Lembro de te ouvir confessando que curtia fotos no facebook de meninas que você sabia que eu tinha ciúmes pra me provocar. E quando confessou que uma vez que fez isso foi também pra dar um jeito de me afastar, sem ter que falar nada comigo sobre querer que eu me distanciasse. E lembro de você confessando que me dava gelos sistemáticos de propósito, porque assim você poderia controlar a nossa relação de forma a impor o ritmo que você precisasse que as coisas tivessem (como se relação fosse isso). Eu fui compreensiva com você, achando que todas essas questões eram questões reais, consequentes de inúmeras situações ruins você havia vivido. E, sabendo eu como era difícil se relacionar quando você acumula certas marcas e cheia de dificuldades próprias, tentei entender. O que custava? Custava tudo. Agora eu vejo como tudo isso era desrespeitoso. Você sequer me respeitava. Queria uma relação desigual em que você vivia todos os seus caprichos e tinha atitudes como ataques de ciúmes injustificáveis ( que não tinham nada a ver com querer a minha exclusividade, mas com seu orgulho de se sentir a maior influência romântica na minha vida) e os quais você jamais toleraria se partissem da minha parte. Se você realmente gostasse de mim, você jamais teria sequer conseguido me tratar dessa maneira, me dar gelos sistemáticos, me manipular. Você teria medo de me perder com esse tipo de atitude. Incrível como você sentia medo d’eu te achar idiota e querer de abandonar por conta de sua opinião sobre um filme,mas não tinha medo de me perder quando se tratava de fazer esse tipo de babaquisse. Eu cansei, definitivamente, de ser a pessoa compreensiva entre nós dois. Toda importância que você diz dar à afetividade e todo potencial de cura que a psicanálise te ensinou que o afeto tem: você realmente quer isso? Você quer viver isso por completo? Você realmente quer viver as consequências de transformas a opinião e os sentimentos de um outro alguém em algo tão precioso que você jamais conseguiria ser frio a ponto de dar gelos ocasionais pra ritmar à sua maneira a relação? Você quer se importar e cuidar de alguém de verdade, ou você só quer muito ser amado, sem se arriscar a se entregar também? Eu me lembro de você me dizendo que queria que eu cuidasse de você, que precisava se sentir cuidado.  Mas você não viu todas as vezes que passei por cima dos meus sentimentos e do meu orgulho para estar com você, em momentos em que eu sabia que você precisava de alguém ao seu lado, embora você nunca fosse pedir pra alguém estar lá? Quando é que você fez algo similar por mim? Nunca. Agora, aliás, momento em que eu mais precisava de você ao meu lado, você me largou pra lá, mais uma vez, sem nem vacilar. E se demonstra, ainda por cima, muito certo e muito feliz com as escolhas que fez. Será que algum dia você quis o outro lado de se sentir cuidado? Ou você só queria o prazer e o poder de sentir alguém se preocupando com você? Será que você já quis de verdade cuidar de alguém, estar disponível, se preocupar, mesmo quando é difícil? Ou você só queria isso pela sua urgente e enorme vontade de se sentir amado?
                          Você me deu muitos sinais de que não gostava de mim de verdade, mas eu estava tão encantada com seu discurso sobre a vontade de viver uma experiência real e sincera com alguém – queria tanto acreditar que aquilo era verdade – que não vi o que realmente acontecia. Não vi que você me escondia dos seus amigos, da sua família. Não vi a distância segura que você sempre fazia questão de manter. Nada disso. E sim, as curtidas em milhares de fotos de outras meninas, algumas das quais eu tinha muito ciúmes, diariamente era sim sinal da sua indisponibilidade. E talvez mais por isso me magoasse tanto. Curtir fotos da sua ex-namorada que você me dizia que não tinha mais a mínima importância pra você, também foi outro sinal. E essa situação nunca realmente foi explicada, ainda que você ache que repetir sempre as mesmas coisas diante de questionamentos diversos expliquem alguma coisa. E agora ainda aparecem sinais retardados da sua falta de consideração pelos meus sentimentos. Você prometeu, depois de muita dor, que não curtiria foto de ninguém no facebook por dois meses, pra me provar a irrelevância que essa ação tem na sua vida. Eu te disse que não queria isso, sinceramente, porque essa não era a questão e sim a sua total indisponibilidade pra mim. Você disse que mesmo assim sustentaria a promessa e encheu a boca pra dizer semanas depois : “olha, como estou cumprindo o que eu disse.”. Você não cumpriu o que você disse. Acredito que relativizou a promessa, não é? Como relativizou sempre tudo sobre mim. Relativizou a sua suposta vontade de ficar comigo, relativizou os muitos planos que você fazia sobre nós, muito mais do que eu jamais fiz. Agora você também desfila por aí em rede pública demonstrando grande felicidade, como se tivesse se livrado de um grande peso que eu fui. Sou mesmo apenas esse dever tão pesado? Pra completar, você trata mulheres , inclusive muitas que você sabe que eu tenho ciúmes, do jeito que me tratava. É “a senhorita quem manda” pra cá. “Beijocas” pra lá. E nenhum respeito à  memória do que vivemos – que aliás, você diz ter sido a sua mais intensa experiência de relação com outra pessoa.
                          Na verdade, eu sou um grande tanto faz pra você. Você não se importa com o que vai acontecer comigo, ou com a minha memória, ou com qualquer coisa que eu esteja sentindo. Por que você se importaria agora que não vai mais voltar? Agora que você não se sente mais sozinho e se sente aceito e querido por um grupo de amigos, você não precisa mais  desta muleta que eu fui, te carregando nos seus tempos de solidão. A pouca companhia que eles te fazem foi o suficiente pra suplantar a minha presença e você prefere essas amizades à companhia diferente que eu poderia te oferecer. Eu me tornei dispensável. E pra quê também você voltaria se você pode ser outra pessoa completamente diferente – do que você foi comigo, do que você é – com outras pessoas?  Por que voltar e insistir em alguém que já tem o olhar que incide sobre você carregado de vícios? É por isso que é fácil dizer agora que não vai mais me procurar. Pra quê você procuraria depois de todo o estrago que você fez? Eu posso ser agora só aquela história embaraçosa da qual você vai lembrar de vez em quanto, enquanto um nó de vergonha se aperta no seu peito.

                               Meu erro foi acreditar no seu discurso perfeito, na sua eloquência  que coloca o afeto entre as coisas mais importantes da vida. Eu quis acreditar que por eu ser exatamente como você me dizia ser, você seria assim também. Eu quis acreditar que você queria viver de verdade uma relação verdadeira e recíproca. Como eu tanto quis. Mas e se todo esse seu palavreado tão bem articulado não significasse na verdade, nada? E se tudo proviesse de uma vontade grande de ser amado, de tomar tudo e não dar nada em troca? E se tudo não passasse de uma armadilha pra convencer alguém a te amar muito, enquanto não havia nenhuma contrapartida? Talvez seja tudo isso e você nem perceba. Mas fica pra mim a lição: observe as ações, não as palavras. Quem quer estar junto, dá um jeito, mesmo com todos os problemas do mundo (e todo mundo tem problemas, eu também), isso pessoas especiais já me mostraram. E fica a tristeza de que, embora eu tenha aprendido tanta coisa, talvez você tenha aprendido pouco com tudo que vivemos. Não é prepotência achar isso, mas vê: é que você entendeu tudo errado, pelo que me conta. Você acha que, depois de toda essa dor que me causou e de se sentir envergonhado, o que tem que fazer é se curar pra conseguir então finalmente viver com alguém a entrega que não viveu comigo. Você entendeu tudo errado. É só com a entrega que se encontra a cura. 

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Re-sentimento.



"(...) quero ser feliz, isto é amarelo.
E não consigo, isto é dor."

Adélia P.

Estou dividida entre a vontade de destruir tudo que existe dentro de mim e ser feliz e livre e o medo de largar pra lá as coisas que existem dentro de mim e que podem se quebrar mais, se eu não tiver: cuidado, receio, temor. Se eu transformar tudo o que vivemos em fingimento da sua parte, vai ser mais fácil, ou mais difícil? Se há verdade, ainda assim, tudo é tão pouco para que eu fique aqui,me apegando a essa história, amarrada pela corda da dor, do receio de que a qualquer momento, mais um movimento brusco da sua parte, mesmo distante, venha a me magoar mais ainda. "O que mais ele fará para me destruir?".  Você já falou sem qualquer responsabilidade. Já fez promessas e descumpriu. Vai aparecer daqui a pouco envolvido com um outro alguém. Será alguém que eu conheço? Uma conhecida, uma amiga? Eu vou ter que fingir uma maturidade que eu não tenho e desejar felicidades, porque, uma vez que eu assumi que você nunca gostou de mim, não tem sentido ficar com raiva (porque afinal, não se pode forçar ninguém a gostar de ninguém e quem tem gostar de mim, gostará e eu terei meus afetos e laços verdadeiros e você também merece os seus)? Ou vou acreditar na sua versão para me dar uma chance de ficar com raiva e colocar você mais uma vez como o vilão da minha vida?
  Eu rezo todos os dias agora. Rezo sem palavras, todo dia pensando uma abstração que  não é objeto, nem dizer, é um um sentimento. Vou mentalizando-o, clamo por ele todos os dias, em todos os meus movimentos, sem precisar de ritual ou verbo, me tornei uma oração ambulante por alguma paz de espírito que não vem, de tanto medo que a paz de espírito não vá durar. Ainda que eu imagine que, também o sofrimento não é eterno. Sinto o impulso pelo desapego me mover - vem do fundo, bem do fundo de alguma parte de mim. Mas eu freio, com medo de que eu não vá aguentar. Com medo de que eu não esteja ainda à altura desse sentimento e dessa postura. 
Eu já estive aqui antes. É um ressentimento, re-sentido, revivido. Já estive aqui antes, mas re-sinto a situação, cada vez diferente, cada vez mais perto de dar um adeus à toda dor. Tudo que eu mais quero e desejo é a possibilidade da fé, da confiança na vida. É a extinção do medo inútil. Saber que não importa seu próximo passo, seu próximo movimento - ou de qualquer outro que me comova - ainda que me estilhace em um milhão de pedaços que jamais se juntarão da mesma forma inteira: mesmo assim, nada vai tirar de mim a felicidade que eu me prometi, quando resolvi que a vida era sincera e eu seria sincera com a vida. Gostaria de perceber completamente e assumir , como percebo em algum lugar confuso e embolado do meu ser, que não importa o que aconteça, não importa o que façam comigo, ou a que conclusão difícil eu tenha que chegar, enquanto eu estiver viva, respirando e saudável, o mundo é meu. Posso fazer o que quiser com a minha vida, posso recriar tudo que eu sou, se assim desejar. Posso me reconstruir, se estiver destruída. Nada é definitivo e sendo assim não define o que eu sou. 
Mas o que acontece depois? Se toda a dor vai embora, o que resta de mim pra você? Sobra tudo aquilo que me fez insistir tantas vezes. Mas esse sentimento é o que dói mais. Não é a humilhação, a rejeição, o descaso. É todo esse sentimento desperdiçado. Para insistir em estar ao seu lado, depois de tanta decepção, eu tive que aprender a abrir mão de todo medo que me movia (ou paralisava?) em nome da vontade real e bonita de ser feliz com alguém. Esse é o seu legado. Chegou um ponto e eu tive que escolher entre me apegar às inseguranças que plantamos - você com a sua inconstância e eu com o meu terror e vício no sentimento de rejeição - ou abrir mão de tudo e acreditar sinceramente no seu sentimento, no meu. Acreditei. Estive lá, disposta, aberta, todas as vezes. Sem pedras na mão, sem querer reviver o passado ruim que já fora. Acho que você nunca chegou a ver nada disso.  Como você poderia me enxergar se tudo é sempre sobre você? Mas era o que você me exigia. Você me exigia que eu estivesse ali, disposta, aberta, e a condição para você ficar era que eu te escolhesse ao invés dos meus fantasmas. Mas como você pode me exigir isso, se nunca, nem por um segundo, você me escolheu? Talvez por isso - talvez só por isso você precisasse exigir, porque você mesmo jamais havia me escolhido aos seus medos. Eu vivi sozinha o sonho de felicidade sem medos, sem pudores, construída em amor e desejo que primeiro sonhou, mas que nunca quis realmente dividir comigo. Continuva abraçado aos fantasmas dos quais você sempre gostou muito mais do que gostou de mim. Ou nada disso, ou você simplesmente jamais sentiu nada. Só teve vontade de sentir, vontade de querer viver tudo aquilo comigo. Como eu poderei saber?
Você diz que o medo que te impede de ficar e só porque eu temo tanto também, eu compreendo, como não queria compreender. Isso me faz vacilar na minha raiva. Me faz reparar que os pretextos que você inventa, já repeti tantas vezes com as mesmas palavras e me identificar com você em meio a um turbilhão de sentimentos ruins - e tanta confusão eu não mereço mais. E esse sentimento que tenho por você persiste. Como sempre persistiu. A sua fragilidade não consegue acabar com ele. É a sua fragilidade que ele ama. Eu o sinto e re-sinto, todas às vezes que você volta.O que eu faço com esse sentimento? O que eu faço com o que vai restar do fim do universo do que nós dois fomos? Não te importa. Você é egoísta. Malgrado o meu destino, você fará o que for preciso pra que tudo dê certo pra você. Ou você conitnuará se contando essa fábula, enquanto usa até a sua própria futura - sempre futura - felicidade, como pretexto pra nunca ser feliz. Mas eu também sou egoísta ( quem não é ?). Dizem que os sentimentos que temos existem para nós mesmos e não para serem correspondidos. E que um amor pode existir, ainda que não correspondido. Isso é real como uma pedra, mas insuficiente. Eu, egoísticamente, concluo que quero ser correspondida em meus sentiumentos na mesma proporção que os sinto, ou mais.
Sobre você: eu sinto tanto e ressinto tanto. Não quero mais nem o sentir, nem o ressentir.