quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Re-sentimento.



"(...) quero ser feliz, isto é amarelo.
E não consigo, isto é dor."

Adélia P.

Estou dividida entre a vontade de destruir tudo que existe dentro de mim e ser feliz e livre e o medo de largar pra lá as coisas que existem dentro de mim e que podem se quebrar mais, se eu não tiver: cuidado, receio, temor. Se eu transformar tudo o que vivemos em fingimento da sua parte, vai ser mais fácil, ou mais difícil? Se há verdade, ainda assim, tudo é tão pouco para que eu fique aqui,me apegando a essa história, amarrada pela corda da dor, do receio de que a qualquer momento, mais um movimento brusco da sua parte, mesmo distante, venha a me magoar mais ainda. "O que mais ele fará para me destruir?".  Você já falou sem qualquer responsabilidade. Já fez promessas e descumpriu. Vai aparecer daqui a pouco envolvido com um outro alguém. Será alguém que eu conheço? Uma conhecida, uma amiga? Eu vou ter que fingir uma maturidade que eu não tenho e desejar felicidades, porque, uma vez que eu assumi que você nunca gostou de mim, não tem sentido ficar com raiva (porque afinal, não se pode forçar ninguém a gostar de ninguém e quem tem gostar de mim, gostará e eu terei meus afetos e laços verdadeiros e você também merece os seus)? Ou vou acreditar na sua versão para me dar uma chance de ficar com raiva e colocar você mais uma vez como o vilão da minha vida?
  Eu rezo todos os dias agora. Rezo sem palavras, todo dia pensando uma abstração que  não é objeto, nem dizer, é um um sentimento. Vou mentalizando-o, clamo por ele todos os dias, em todos os meus movimentos, sem precisar de ritual ou verbo, me tornei uma oração ambulante por alguma paz de espírito que não vem, de tanto medo que a paz de espírito não vá durar. Ainda que eu imagine que, também o sofrimento não é eterno. Sinto o impulso pelo desapego me mover - vem do fundo, bem do fundo de alguma parte de mim. Mas eu freio, com medo de que eu não vá aguentar. Com medo de que eu não esteja ainda à altura desse sentimento e dessa postura. 
Eu já estive aqui antes. É um ressentimento, re-sentido, revivido. Já estive aqui antes, mas re-sinto a situação, cada vez diferente, cada vez mais perto de dar um adeus à toda dor. Tudo que eu mais quero e desejo é a possibilidade da fé, da confiança na vida. É a extinção do medo inútil. Saber que não importa seu próximo passo, seu próximo movimento - ou de qualquer outro que me comova - ainda que me estilhace em um milhão de pedaços que jamais se juntarão da mesma forma inteira: mesmo assim, nada vai tirar de mim a felicidade que eu me prometi, quando resolvi que a vida era sincera e eu seria sincera com a vida. Gostaria de perceber completamente e assumir , como percebo em algum lugar confuso e embolado do meu ser, que não importa o que aconteça, não importa o que façam comigo, ou a que conclusão difícil eu tenha que chegar, enquanto eu estiver viva, respirando e saudável, o mundo é meu. Posso fazer o que quiser com a minha vida, posso recriar tudo que eu sou, se assim desejar. Posso me reconstruir, se estiver destruída. Nada é definitivo e sendo assim não define o que eu sou. 
Mas o que acontece depois? Se toda a dor vai embora, o que resta de mim pra você? Sobra tudo aquilo que me fez insistir tantas vezes. Mas esse sentimento é o que dói mais. Não é a humilhação, a rejeição, o descaso. É todo esse sentimento desperdiçado. Para insistir em estar ao seu lado, depois de tanta decepção, eu tive que aprender a abrir mão de todo medo que me movia (ou paralisava?) em nome da vontade real e bonita de ser feliz com alguém. Esse é o seu legado. Chegou um ponto e eu tive que escolher entre me apegar às inseguranças que plantamos - você com a sua inconstância e eu com o meu terror e vício no sentimento de rejeição - ou abrir mão de tudo e acreditar sinceramente no seu sentimento, no meu. Acreditei. Estive lá, disposta, aberta, todas as vezes. Sem pedras na mão, sem querer reviver o passado ruim que já fora. Acho que você nunca chegou a ver nada disso.  Como você poderia me enxergar se tudo é sempre sobre você? Mas era o que você me exigia. Você me exigia que eu estivesse ali, disposta, aberta, e a condição para você ficar era que eu te escolhesse ao invés dos meus fantasmas. Mas como você pode me exigir isso, se nunca, nem por um segundo, você me escolheu? Talvez por isso - talvez só por isso você precisasse exigir, porque você mesmo jamais havia me escolhido aos seus medos. Eu vivi sozinha o sonho de felicidade sem medos, sem pudores, construída em amor e desejo que primeiro sonhou, mas que nunca quis realmente dividir comigo. Continuva abraçado aos fantasmas dos quais você sempre gostou muito mais do que gostou de mim. Ou nada disso, ou você simplesmente jamais sentiu nada. Só teve vontade de sentir, vontade de querer viver tudo aquilo comigo. Como eu poderei saber?
Você diz que o medo que te impede de ficar e só porque eu temo tanto também, eu compreendo, como não queria compreender. Isso me faz vacilar na minha raiva. Me faz reparar que os pretextos que você inventa, já repeti tantas vezes com as mesmas palavras e me identificar com você em meio a um turbilhão de sentimentos ruins - e tanta confusão eu não mereço mais. E esse sentimento que tenho por você persiste. Como sempre persistiu. A sua fragilidade não consegue acabar com ele. É a sua fragilidade que ele ama. Eu o sinto e re-sinto, todas às vezes que você volta.O que eu faço com esse sentimento? O que eu faço com o que vai restar do fim do universo do que nós dois fomos? Não te importa. Você é egoísta. Malgrado o meu destino, você fará o que for preciso pra que tudo dê certo pra você. Ou você conitnuará se contando essa fábula, enquanto usa até a sua própria futura - sempre futura - felicidade, como pretexto pra nunca ser feliz. Mas eu também sou egoísta ( quem não é ?). Dizem que os sentimentos que temos existem para nós mesmos e não para serem correspondidos. E que um amor pode existir, ainda que não correspondido. Isso é real como uma pedra, mas insuficiente. Eu, egoísticamente, concluo que quero ser correspondida em meus sentiumentos na mesma proporção que os sinto, ou mais.
Sobre você: eu sinto tanto e ressinto tanto. Não quero mais nem o sentir, nem o ressentir.




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