quarta-feira, 2 de abril de 2014

22 anos e 22 lições.

Hoje dia 02 de abril de 2014, eu completo meus 22 anos de idade e, como não poderia deixar de ser, tudo é muito diferente do que eu imaginei que seria - seja pra pior, ou pra melhor. E  me peguei pensando, na véspera de mais uma primavera completa, sobre tudo que eu aprendi até agora com a vida. Todo aniversário é época de reflexões, rever atitudes e fazer projeções pro futuro. É, afinal, um "ano novo" no sentido matematicamente mais correto da expressão. Daí achei que seria interessante talvez fazer uma lista do que eu já acumulei de percepções sobre a vida . Esse é um exercício interessante pra fixar aprendizados e um dia será um exercício mais interessante ainda rever essa lista e ver o que ficou e se sustentou ao longo dos anos, o que mudou e porque. Sendo assim, vamos à lista ! Um item para cada aninho de vida!

1 - É importante ter equilíbrio. Embora todos os itens aqui listados estejam colocados de forma aleatória, essa primeira lição talvez seja a mais importante - porque permeia muitas outras. Não é papo de gente que faz ioga. Tudo na vida depende de nos mantermos equilibrados. Nada na vida pode nos consumir e anular as nossas forças e as nossas vivências das várias dimensões que compõem a nossa existência. Se isso acontece e há uma área de nossa vida que eclipsa todas as outras, ou um assunto, ou um alguém que se torna alvo de uma obsessão sem fim, ficamos cegos pra vida. A vida é múltipla e a multiplicidade dos âmbitos vividos só pode nos ajudar a caminhar. Cada área da nossa vida vai, de pouquinho em pouquinho compensando o que há de bom ou ruim na outra e aí vamos construindo nossa estrada. Investir tudo que há de nós em apenas uma área da nossa vida é correr o alto risco de nos perdermos e nos quebrarmos por motivos que várias vezes estão fora do alcance de influência de nossas ações(se ficamos dependentes dos nossos relacionamentos e relações, por exemplo, é justo que essa seja a área que definirá se tivemos fracasso ou sucesso na nossa vida, sendo que depende de uma coisa tão abstrata, fora de controle e às vezes inalcançável, como o sentimento dos outros?). Por outro lado, sendo pragmática, precisamos desse equilíbrio porque a vida não é uma maravilha em que as coisas são sempre diretamente e proporcionalmente uma resposta correspondente aos nossos esforços e investimentos. Isso jamais deverá ser uma desculpa para não nos esforçarmos e darmos o nosso melhor , dentro de nossos limites, para conquistarmos o que queremos, mas, ao mesmo tempo, não é possível idealizar os caminhos - às vezes,não basta. A vida não é feita pra ser justa - e esse não é um papo de amargura - a vida não é feita pra ser nada. Ela é o que fazemos dela , então temos sempre que garantir o que podemos garantir, dando o melhor para o que nos propomos. Mas é sempre preciso caminhar de forma equilibrada. Obsessão não leva a muitos lugares bons. O que nos leva a um outro ponto:

2- Dependência de qualquer coisa, é horrível. Se é preciso manter o equilíbrio , é porque colocar a nossa vida em relação de dependência com qualquer coisa, é uma das coisas mais destrutivas que podemos fazer. Qualquer tipo de dependência é um escapismo. Dependência química, dependência em trabalho, em vídeo game, em qualquer coisa. Alimentamos dependência para não termos que lidar com as nossas questões. Não temos que depender em sentido prático de nada, nenhuma coisa, nem de ninguém. . Mas, principalmente, não podemos depender sentimentalmente de ninguém. A nossa vontade de sermos amados, desejados, queridos, que acredito que é tão universal, que pode ser chamada de humana, deve ser respeitada como algo inerente à nossa espécie, algo comum e que nos une e cria empatia. Isso significa que não devemos ter vergonha ou medo, de querermos ser amados e queridos. Mas não é bom respeitar essa vontade a ponto de perder o respeito por si mesmo e pelos outros. Ser amado deve ser sempre uma consequência, não uma obrigação e não devemos depender disso para viver nossas vidas. Se apenas conseguimos construir a nossas vidas em cima da aprovação e do amor dos outros, nos tornamos frágeis, perdemos o respeito por nós, e abandonamos, em nome do vício do amor, os nossos desejos, os nossos sonhos e as nossas opiniões. Abandonamos a nós mesmos porque queremos, acima de tudo viver em função do amor dos outros e pra sermos o que os outros querem que sejamos. E enquanto isso, desperdiçamos a nossa vida e sofremos consequências que ninguém terá que encarar além de nós. A vontade de viver e participar da vida deve ser autossuficiente, e não pode existir em função do desejo de ser amado, porque então, todas as outras áreas da nossa vida são contaminadas por esse sintoma e tudo que fazemos virará uma maneira de acariciar nosso próprio ego. Sendo assim:

3- Love is not all you need. A ideia de que o amor pode ser nosso único alimento pra vida é bonita,  mas só funciona em música. A não ser que estejamos falando de um amor maior, pelas coisas e pela vida. Mas quando se trata de amor entre as pessoas, esse não pode ser o único sentido das nossas vidas. Se ficarmos presos à ideia de que nossos relacionamentos vão nos sustentar como pessoas, nos tornamos dependentes. E como eu já disse aí em cima, tem nada de bom em ser dependente. É preciso transcender a nossa vontade de ser amado e construir algo por e somente para nós mesmos. Em sentido prático, é o seguinte: se amamos somente as pessoas e não nos entregamos para desejos que são só nossos, nós sequer teremos algo para compartilhar com quem amamos, porque a única coisa que temos e construímos é nosso amor por eles e isso não é só chato, é triste. O âmbito sentimental da vida é muito instável e não podemos depender de , para nos amar e nos interessarmos pelas coisas, ter o amor e a companhia dos outros. Nunca sabemos o que acontecerá amanhã. As pessoas se separam, as pessoas se afastam, as pessoas morrem e a vida é assim e precisa continuar. Precisamos, para continuar junto com ela , de algo que seja só para nós e só nosso, algo que nos cause e nos interesse no mundo para além da vontade de ser amado e desejado, ou seja:

4- É preciso alimentar um sonho, que seja só nosso e não dependa de mais ninguém. A vida é muito vasta e bonita e sempre alguma coisa nela nos causa, pela nossa constituição emocional mesmo. É preciso se apegar a esse sentimento e alimentar um sonho sobre o que queremos viver nessa vida e o que queremos ser. Dessa forma, construímos um sentido pra nossa vida para além da nossa vontade de ser amado. Preenchemos-a trabalhando e construindo algo  que importa para nós e só para nós. É disso que precisamos para ser feliz : de uma jornada que empreste sentido para a nossa vida e para o nosso dia-a-dia, em menor escala. Ter um objetivo do que fazer com as nossas existências é essencial. Mas para chegar a construir efetivamente um caminho para nós mesmos: 

5 - Pragmatismo é importante, mas não em excesso. Se alimentamos um sonho, a vontade de ser alguém ou viver algo e não fazemos nada para se aproximar desse sonho, ou se ficamos constantemente nos autosabotando, inventado desculpas, estamos apenas alimentando o nosso sintoma , que não nos permite sair do lugar. Agindo dessa forma, subverte-se a melhor ideia possível para nos curarmos das dores existenciais e da dependência da aprovação e do amor alheio, que tanto sofrimentos causam. Há exigências para se seguir um sonho e uma delas é ter um certo pragmatismo. Criar objetivos concretos, investir em transformar o caminho para esse sonho em parte da sua rotina e persistir nisso até que você se torne o seu caminho. É preciso abrir mãos de muitas idealizações para isso, porque a realidade e a experiência sempre nos mostra faces das coisas que não poderíamos apreender enquanto desejávamo-as de longe. É preciso também saber traçar objetivos concretos e aprender com as nossas experiências. Mas vale aqui o princípio do equilíbrio. Pragmatismo em excesso nos torna pessoas egoístas, que só enxergam sua própria vontade e conforto. Você pode ser assim, se quiser, mas provavelmente se tornará uma pessoa solitária. Além disso, aos poucos, vai se perdendo a capacidade mesmo de alimentar os sonhos. Porque todo sonho precisa de um pouco de idealização. Até porque, enquanto nos transformamos, se nos entregamos para falta de idealização completa do que nós ainda somos e do que ainda não somos, isso pode ser desestimulante e levar à autossabotagem. Mas precismos dos nossos caminhos, da nossa vida só para nós e de nos apropriar das nossas coisas a ponto de dar um sentido para nossa existência, até porque:

6 - A sua vida é sua e só sua. Tudo que fazemos na vida, inclusive nossas omissões,são escolhas de nossa responsabilidade. Isso porque ninguém no mundo jamais poderá entender , ou viverá completamente as consequências das nossas escolhas. Isso cabe somente a nós, então temos que cuidar das nossas escolhas e responsabilidades e entender que por mais que às vezes seja irresistível a vontade de culpar alguém por nosso sofrimento ou responsabilizar um outro alguém pela nossa infelicidade ou felicidade, isso é apenas uma forma de permanecermos passivos diante da necessidade de nos apropriarmos da nossa vida, refletirmos sobre o que é importante, fazermos escolhas e tentarmos, para construir, da nossa forma, o nosso caminho, como sempre construímos (inclusive nosso próprio sofrimento), mesmo que a gente não queira ver. Mas há um ponto precioso a entender nesse esforço de responsabilização e construção de uma vida mais ativa:

7- É impossível ter controle de tudo. Aceite.  Ainda que alimentemos um sonho, assumamos a responsabilidade pelos nossos atos e escolhas e nos dediquemos com todos os nossos esforços para a construção do que queremos viver, não há garantia de 100% de sucesso. Não há necessariamente, uma relação de causalidade e proporcionalidade entre o seu esforço e aquilo que haverá de retorno para você. Isso porque o que acontece na nossa vida nem sempre é consequência direta das nossas ações. Há inúmeros e complexos fatores, alguns inclusive fora do alcance da nossa razão, que constroem a complexa teia da vida e influenciam o nosso caminho. Quanto mais cedo se aceitar isso, melhor. Não quero cair em um papo místico e transcendental, mas é preciso entender a vida como ela é e aceitar o quê de aleatoriedade que ela possui. Há quem, diante disso, desanime e conclua que,se não há garantia de sucesso, não  é válido o esforço de viver um sonho. Mas acredito que isso deva ser encarado pelo lado contrário. Se há tantos fatores incontroláveis e inalcançáveis que nos influenciam, precisamos nos garantir o máximo que der, naquilo que dá para se garantir, dando o nosso melhor. Mas é bom ter em mente que não há garantias até para mantermos o nosso princípio de equilíbrio e não fazermos do nosso próprio sonho a nossa obsessão , que se der errado , e pode dar, nos definirá como fracassados. Afinal, é preciso assumir que na vida, 

8 - Há de se contar com um pouco de sorte. É preciso reconhecer que há contexto e contextos. Há aqueles contextos que tornam as coisas mais fáceis e há outros, que tornam tudo mais difícil. E esses contextos, são , muitas vezes, como já atestado, impossíveis de serem controlados , ou influenciados pelas nossas ações, em alguns pontos. Tudo isso, em última instância pode significar que há sim, um momento para as coisas acontecerem. E mais uma vez, não quero cair com isso em nenhum papo sobre transcendentalidades, nem destino. Mas os contextos que tecem a vida podem não só influenciar se as coisas acontecerão de forma mais fácil, ou mais difícil , como podem definir se elas acontecerão , ou não , ou quando acontecerão. Por outro lado nem tudo na nossa sorte nos é externo. A boa notícia é que nossa sorte também é construída pelas nossas interpretações. São as nossas interpretações sobre as situações que nos farão assumir as posturas que farão a diferença no resultado das coisas, naquilo que podem fazer. Se escolhemos ver as coisas boas de uma situação, estaremos mais preparadas para ela e para as oportunidades que ela nos dá (afinal, tudo tem seu lado bom e ruim) e uma visão pessimista das coisas, pode nos tornar mais desistentes. Tudo isso porque

9- Pensamento tem força, sim.  E esse não é um papo estilo autoajuda do tipo O segredo, que entende que o pensamento positivo te conquistará tudo que você quiser, por efeito de uma força invisível e mágica. Mas os pensamentos que nós temos influenciam a postura que assumimos perante as coisas da vida e a nossa postura define as nossas ações. Repetindo, pensamentos positivos e otimistas nos permitem enxergar melhor as oportunidades que a vida nos dá e nos dá coragem para aproveitá-las, pensamentos negativos, por outro lado, podem nos tornar até mesmo cegos para possibilidades boas. É preciso sim , então, tomar cuidado também, com nossos pensamentos. O tipo de pensamento que  cultivamos afinal, são também, escolhas nossas. 

(Continua.) 

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