segunda-feira, 2 de março de 2015

7 lições de 2014


2014 foi um ano de difíceis lições, que ainda estou processando. E para ajudar em sua elaboração, cabe colocá-las em palavra escrita – algo que sempre me permite organizar os pensamentos.
      
       1ª lição : A vida não é em preto e branco.

                Essa talvez tenha sido a maior e mais importante lição do ano e também a mais difícil pra mim, uma vez que eu mesma sou um pouco em preto e branco. Ela nos diz um pouco sobre a contraditoriedade das pessoas, de  suas intenções e como as circunstancialidade pesa sobre o que é e quem é alguém com que você se relaciona. É aquela velha história de que uma pessoa que te faz mal, não necessariamente é uma pessoa ruim. Assim como boas ações podem brotar naqueles que raramente fazem algo decente. Essa foi uma lição árdua de engolir.  É fácil querer condenar quem quer nos cause um dano, nos injurie – é extremamente fácil colocar essas pessoas sob o rótulo de pessoas ruins, sem sentimentos. É fácil concluir que quem te machuca, não gosta de você. (Há quem diga que é difícil, que as pessoas preferem se enganar para evitar arranhar o ego, quando se é rejeitado, ou magoado. Mais fácil contar mil mentiras para si mesmo. Criar pretextos e autojustificativas. Para mim, não). Para mim é mais difícil tentar  compreender a complexidade e o emaranhado de fatores e influências que levam uma pessoa a tomar uma decisão, ou agir de determinada maneira. As pessoas são muito mais complexas do que eu gostaria que elas fossem. Infelizmente, essa é a verdade. É difícil julgar o que alguém é, ou o que deixa de ser pelas suas atitudes para comigo, porque a mínima parcela que compartilho da vida de outro alguém é pouco dentro dos intrincados universos que formam as singularidades. Mesmo quando se conhece os motivos do outro que pesaram para que assumisse determinada postura, ainda há muitas questões que podem ficam no ar. Talvez o peso que alguém atribui a determinado fator não seja o que eu mesma atribuiria e é difícil enxergar, de onde eu estou , que é sempre o meu ponto de vista, o ponto de vista do outro. Há muitas experiências que cada um carrega em si e muitas interpretações diferentes para essas tantas experiências que se misturam, se entrecruzam e formam uma teia de racionalidades, modos de pensar e de sentir. Talvez quem lhe faz mal, não faça por querer, talvez estivesse dando o seu melhor para levar a vida e as suas relações da maneira mais correta possível. Ou talvez faça por querer, porque não entende direito para onde e como direcionar a própria dor, insegurança,ou  medo, então os extravazam nas pessoas em volta. Talvez alguém que te magoe, ao mesmo tempo te ame, mas não sabe o que fazer com isso. Talvez as suas próprias expectativas sejam surreais a ponto de não trazerem nada para sua vida além de frustração e o outro não seja assim tão responsável pelo fato de você estar magoado. Talvez seja tudo isso junto e talvez a cada uma hora seja algo diferente, sem necessariamente deixar de ser  tudo.   Sim, é complicado de entender, mas é preciso tentar. Porque tentar é mais justo do que se esconder atrás de respostas prontas. Há quem diga que tentar compreender o outro ao invés de assumir a postura defensiva do “é porque nunca se importou” (ou “é porque não presta”, ou “é porque tem má índole”) é que seria se enganar, arranjar pretextos e desculpas. Mas na verdade, é preciso coragem para compreender o outro como ele é, sem vilanizar, nem colocar em um pedestal - sem maniqueísmos. Principalmente, quando há sentimentos envolvidos. Afinal, coragem é relativa e quando se é um poço de insegurança, assumir que o outro pode ser só mais um ser humano, cheio de dúvidas, erros e acertos é difícil porque não estamos no chão seguro dos rótulos e das figuras bem definidas, de quem sempre sabemos o que esperar (essas sim são os grandes clichês dos contos de fada, figuras muito bem delineadas). Além disso, essa assumpção não traz necessariamente nenhum efeito no sentido de recuperar  um ego ferido, que muitas vezes é só o que queremos depois de uma grande decepção (Não que simplificar tudo colocando rótulos nas pessoas como “babaca”, etc, vá realmente fazer algum efeito além de ilusório para recuperar a autoestima de alguém. No fundo, intuímos quando essas conclusões de dor de cotovelo são injustas e ficamos remoendo o que quer que tenha acontecido, ainda, em busca de uma explicação mais real).
                 A vida, os sentimentos, as situações, então, não são em preto e branco. Não há contraste: uma trupe do bem, uma trupe do mal. Grifinória e Sonserina. Embora fique claro que na ficção, estamos carecas de projetar nossa vontade de que as coisas fossem tão simples como mocinhos e vilões – e tudo que vem de bom vem dos primeiros e tudo que vem de ruim e culpa dos últimos. As pessoas e as coisas não são tão simples assim. Aliás, acredito que as situações mais complicadas e difíceis são aquelas pelas quais  não temos a que culpar, onde não há o “errado”, o “mal”. E elas são muitas.
                Eu mesma não sou nenhum exemplo de constância e coerência absolutas. Tento ser justa, humana, sensível e muitas vezes isso é difícil. Não tão raramente, se eu for leal à verdade, eu já fui escrota, mesquinha, egoísta, desatenciosa e preguiçosa em relação a muitas pessoas. E muitas delas não mereciam.  Mesmo que eu entenda que para mim, as coisas são um pouco mais radicais em termos de coerência do que para muitas pessoas que eu conheço. Mas é preciso reconhecer isso, minha própria contrariedade, minha própria alternância diante da circunstância, para que eu entenda o outro.
                O algo de bom dessa lição é que podemos parar de condenar as pessoas sob os rótulos que imaginamos pra elas muitas vezes dentro dos nossos próprios sentimentos de insegurança. Alguém que cometeu um erro terá que ser pra sempre errado, culpado e criminoso, marcado por um jugo imutável e eterno, como se o mal fosse sua essência? (Isso inclusive, traz a tona questão da vida após o cumprimento de uma pena judicial) Não que não existam babacas, pessoas ruins, ou que frequentemente levam a vida de maneira mesquinha, amargurada, etc. Mas existem principalmente atitudes ruins, atitudes equivocadas, atitudes mesquinhas. E uma cadeia desse tipo de atitude, pode se romper. Ou seja, as pessoas podem mudar. Elas não precisam ser sempre os erros que cometeram para com você. E essa liberdade se estende também para aquele que compreende isso e entende por fim que também pode cometer erros e não necessariamente, será definido por eles.

      2ª lição: Temos que nos proteger também de quem amamos
   
           Como consequência da primeira lição, temos: todos – até mesmo aquele serzinho mais adorado por você na face da terra –são  capazes de ser “vilões”, ou “mocinhos” na vida de alguém, dependendo das circunstâncias. E às vezes são até as duas coisas ao mesmo tempo, para observadores distintos. Então, é preciso se proteger em toda e qualquer relação. Eu tenho uma tendência para me entregar às minhas relações de forma absoluta, o que traz suas consequências boas e ruins, como tudo na vida. Também tendo a me esforçar bastante pelas minhas relações e uma vez que confio em alguém, fico um pouco cega para todo e qualquer mal que a pessoa possa me causar, ainda que sem querer (isso pode demonstrar um pouco da minha inocência, mas não deixa de ser uma forma de eu desumanizar o outro, enquanto o transformo no meu objeto de amor). Nunca espero nada de ruim vindo de alguém que consquistou meu afeto e minha confiança e quando uma atitude mentirosa, ou de afastamento, de rejeição, de grosseria, de desrespeito, ou de invasão vem na minha direção, é um duro golpe. Mas venho aprendendo, aos poucos como me proteger e sem, é claro, destruir a imagem daqueles que amo (eles são, por serem tão importantes, os mais vulneráveis a se tornarem na história que eu conto na minha cabeça pra dar sentido à minha existência,  os grandes vilões da minha vida).  É preciso primeiro tratar das próprias questões para não achar que qualquer relação pode definir o que você é , para aprender que algumas coisas ruins, incômodos, afastamentos, também fazem parte de uma relação e que elas existirem pode ser até bom, se eu deixar elas existirem sem me martirizar por elas, nem deixar elas dizerem o que sou eu ou o que ou outro é (faz parte, somos humanos, erramos e mesmo sem errar, a vida cria ela mesma, muitas situações difíceis) ; depois, é preciso entender que o outro também tem as próprias questões dele, com as quais ele também tem que lidar e pode estar em um momento em que não está lidando tão bem, ou pode projetar em você essas questões, se tornar invasivo, querer se afirmar a partir de você, ou negando você, pode ter medo de você, medo de ser ele mesmo rejeitado, e tudo isso, pode causar danos, se você entra na onda.Pode inclusive, fazer pior, enganando, mentindo, traindo. É preciso compreender, mas não aceitar. As questões que as pessoas carregam são só delas e não tem porque você mesmo embarcar no drama, ainda mais sabendo o quanto isso pode te magoar. E você também, precisa rejeitar, negar, se afastar daquilo que te faz mal. Ainda que a pessoa não consiga enxergar que te faz mal por uma questão que pertence somente a ela e não a você. Ainda que ela  não veja que te faz mal. Ou ainda que ela precise de ajuda. Há que se colocar um limite. Até se você resolver tentar ajudar.

     3ª lição: Nem todos querem o que eu quero
   
           Quando você faz análise, ou qualquer tipo de trabalho para construir um autoconhecimento, você compreende a força da sua insegurança e do seu medo na formação das suas piores características. A minha tendência, depois disso, foi assumir que assim como eu, no fundo, todo mundo só quer amar e ser amado, ainda que se opte por diferentes formas de se sentir isso, por diferentes artifícios para se chegar a esse sentimento e mesmo quando se tomam caminhos controversos como o vício na sensação de poder e de influência. No meu entendimento, mesmo aquelas pessoas que, em nome de granjear algum poder (confundido com amor), são desonestas, prejudicam ou diminuem outras pessoas – mesmo elas, no fundo só queriam ser amadas e amar, que no final, não é nada de injusto de se desejar. Mas, eu estava errada. Ainda acredito que no fundo, é a vontade de ser amado que nos move a todos nós e  até certo ponto, tem que nos mover, para conseguirmos criar laços, empatia pelo outro (mas é bom frisar o até certo ponto, porque o vício em ser amado também é perigosíssimo e nos faz abrir mão dos nossos próprios desejos em virtude de ser desejado, vivendo assim, em função do desejo do outro), mas isso não significa que de fato, o que queremos, é amar e ser amado.
                Querer amar e se amado e viver isso de maneira saudável, sentindo de forma real o prazer de ser desejado, querido, do afeto e ao mesmo tempo aprender a ser um sujeito ativo, que acima da vontade de ser amado e independente dela, ama, deseja, e, portanto, vive - tudo isso exige um postura ativa. Não basta querer de uma forma enviesada, mal reconhecida, mal declarada e nunca nomeada. Reconhecer que você precisa ser amado e amar, é abrir o peito e viver um monte de fraquezas, de dificuldades e se entregar, mesmo assim. Há quem, ainda que queira sim, no fundo, e simplesmente, ser amado, não esteja disposto a pagar o preço. Esses preferem caminhos mais rápidos para sentir que são importantes e queridos: preferem buscar poder e aprovação daqueles nos quais eles veem poder. Ou aprovação geral, social.  E aí trabalham e desejam principalmente esse poder, principalmente essa aprovação e reproduzem isso em todas as esferas de suas vidas, até na familiar. Aí não dá pra dizer que querem amar e ser amados. Querer precisa de conscientização, de tempo e pensamento investidos naquilo que se quer  e principalmente, de ação, para alcançar o que se quer. Se não há isso, não há querer de verdade, só um querer disfarçado que mais parece que não queria ser querido.
               
            4º lição: Amor não é o suficiente

                Se as pessoas são capazes de magoar as outras sem querer,  se são humanos que simplesmente cometem erros, mas não são maus por isso, se querer (inclusive querer estar com alguém) sem atitude concreta não é o suficiente e, se mesmo que nenhum erro seja cometido, a vida ainda assim pode encaminhar as coisas para que elas deem errado; claro que amor não é o suficiente para manter nenhuma relação. É preciso ter um certo cuidado, com você e com o outro, para que suas questões egoísticas não extrapolem no outro e vice-versa .É preciso ter cuidado também pra cultivar (e cultivar é a melhor palavra pra algo tão vivo quanto uma relação) vontades, desejos de estar com outro, bons momentos, carinhos e cuidados, é preciso ter paciência e é preciso esforço de ambos os lados em cada relação que se estabelece. É preciso outras coisas que ainda estou entendendo.

           5º lição: Nosso amor é para nós mesmos
         
                  Se amor verdadeiro não é o suficiente para estar com alguém, o amor verdadeiro, não correspondido, ou mal vivido, é em vão?
                Muito me incomoda uma sensação de sentimento desperdiçado. É tão difícil estabelecer ligações reais com as pessoas que é um grande pesar romper uma relação, só pelo ato do rompimento. Mas eu me sentir assim significa que para mim, por muito tempo, o amor era  sinônimo de obrigação de algo acontecer, de dar certo. Já que é tão difícil o amor acontecer, se há amor, tem que dar certo, não? Era como se amor fosse a solução para viver feliz. Para viver com alguém e viver em harmonia. Mas na verdade, eu descobri que amor  é muito mais uma empreitada solitária e serve mais e primeiramente, àquele que ama.
                Ser sujeito ativo no ato de amar, quando se é verdadeiramente, traz um monte de benefícios muito pessoais. Amando, somos capazes de superar nossas motivações egoísticas, nossa eterna luta interna projetada pra fora em busca de algum sentimento de potência. Amar dá paz e liberta, na medida que, quando pelo outro podemos superar nossos medos e nossas inseguranças, percebemos que podemos. Percebemos que o que nos parecia ser o que havia de pior no mundo, é superável.  E você mesmo, em muitos momentos, supera-os, só porque você quer. Isso traz uma sensação de liberdade inominável.


                 6º lição: Amar não é ter que estar sempre presente e disponível
           
              Eu tendo a confundir amor com estar sempre presente e disponível porque eu estou sempre presente e disponível quando amo. Na realidade, estar sempre presente e disponível é muito natural às vezes, mas outras vezes é um grande esforço e é cansativo. Mas esse ano eu entendi que amar não é ter que estar sempre presente e disponível. E qualquer um que tente me convencer do contrário está tentando usar minha presença para tampar  buracos pelos quais não sou responsável. Mas amar também não é estar sempre ausente, indisponível e inalcançável. Não é preciso achar que por não ter necessidade de se estar sempre presente, não vá se querer e até se tentar estar, quando isso  for possível.  
                Só que, é preciso respeitar nossos limites e nossas vontades. Não adianta tentar estar presente quando se sente mal e desconfortável em relação ao outro, por exemplo. Há de se buscar um equilíbrio entre estar presente, ou não, dentro das nossas possibilidades, não por nenhum motivo fútil como tentar controlar o outro, ou fazer alguma espécie de joguinho de poder, para que te procurem, mas sim porque estar presente e disponível tem que ver de uma vontade grande, ou de um sentimento de dever justo (sim, porque essa história de que só vontade é que move no amor, sempre, é uma idealização dos diabos), mas nunca deve nos castrar, e nunca deve estar motivado, principalmente, pelo medo de não estar presente. Quando você está presente só porque tem medo do que pode acontecer na sua ausência, isso é infelicidade, bicho. É falta de confiança, de autoconfiança e desconforto. Não há amor e relação que resista a isso.

            7ª lição: Alguns nãos  e algumas rejeições são necessárias
       
        Rejeitar algum comportamento que venha do ser amado não é sempre uma coisa ruim. Há comportamentos e demandas que não podem ser aceitas. Não são justas e partem do sintoma do outro e alimentá-las só pode trazer problemas e aumentar a vivência desses sintomas. É preciso ter em mente que não é por mal muitas vezes que se faz isso. É difícil também saber com certeza se é o sintoma que está falando no outro. Mas é fácil aprender aos poucos, com a convivência, as repetições doentias que nas quais incorrem aqueles que amamos e das quais não precisamos participar.
                Eu sempre tive verdadeiro horror de qualquer tipo de rejeição aberta. Mas sim, algumas rejeições são necessárias, o que não faz elas menos difíceis. É duro, mas é verdade. Os comportamentos absurdos e paranóicos dos nossos entes queridos , quando se tornam invasivos e agressivos tem que ser rejeitados, cortados e negados. É uma forma que temos de cuidar de nós e deles mesmos. E rejeitar um comportamento de forma alguma significa rejeitas a pessoa, ou o que ela é. Amamo-as mesmo com aquele comportamentos que estamos afastando. É capaz que a gente compreenda , entenda, até se identifique com o comportamento destrutivo do outro, que o ame justamente assim. Mas não é possível viver com ele, conviver assim. Há uma distância entre uma coisa e outra(entre amar e pode conviver e viver com)  e é importante percebê-la para viver uma vida saudável.


         O que eu quero para 2015:

                Faz muito tempo que ando triste e ressabiada pelos cantos. Desconfiada das pessoas e das coisas, faz tempo que  não me sinto feliz e só, sem nenhuma ansiedade. Faz tempo que não rio com muita vontade e que me sinto bem humorada. Então, em 2015, espero recuperar meu bom humor e minha boa vontade com as pessoas e com as situações que a vida me arranjar. Espero rir mais, me reconcetar comigo mesma, com as minhas raízes e meus desejos mais genuínos e profundos. Espero que as coisas fiquem mais leves e menos dramáticas pra mim também e sei o papel grande que tenho para fazer isso acontecer. Mas não por isso, virei a niglicenciar meus sentimentos. Minha amargura e minha obsessão com o sentimento de rejeição não deixou espaço para eu viver meus afetos plenamente. Eu sinto que tenho sido uma má amiga,uma má filha. E esse não é um sentimento que quero continuar carregando comigo. Por último, mas não menos importante, espero recuperar algum mínimo de disciplina e criar uma rotina que me deixe confortável comigo mesma, em relação aos meus desesjos e às minhas obrigações.


Nenhum comentário:

Postar um comentário