sexta-feira, 15 de agosto de 2014

9 músicas que marcaram minha vida.

9 músicas que marcaram minha vida.

1 –  Vienna – Billy Joel.  Essa música me acompanhou nas minhas primeiras frustrações um pouco mais adultas. Ganhei ela de presente de um amigo. Pra quem é jovem e ansioso, nada como uma canção pra te lembrar de como viver suas ambições e da paciência que é necessária para construirmos nossos caminhos e esperarmos os resultados que queremos obter na vida e pra tudo na vida. O grande segredo da música está em entender o sentido da cidade de Viena figurando por ali. Billy Joel contou a história da música num artigo que escreveu para uma revista, uma vez. Sua idéia para a música surgiu quando esteve em Viena, visitando seu pai, e teve uma epifania diante de uma senhora, já muito idosa, que varia as ruas, com todo o afinco e bom humor. Ele foi sugerir que alguém impedisse que ela fizesse aquilo, porque já era muito idosa e a pessoa lhe respondeu que ainda que a senhora não tivesse mais tanta saúde, a pior coisa que lhe fariam seria lhe tirar a sensação de estar sendo útil para si mesma e para sua comunidade. Entendeu que com toda a idade que tinha, ela não tinha razão para sentir pena de si mesma. Ela estava lá, dentro de seus limites, fazendo aquilo que achava que devia fazer por si e pelas pessoas em volta. E isso que importa, no final das contas, em cada atividade que fazemos, independente do que seja. Também se deu conta de que temos simplesmente o resto das nossas vidas, para sermos assim e isso sempre se renovará em todos os nossos desafios que se colocam para nós: a vontade de nosso fazer nosso melhor, dentro dos nossos limites, e a satisfação de conseguirmos.  Podemos ser assim em qualquer coisa que desejarmos, em qualquer momento das nossas vidas, ainda que quando jovens, a ansiedade de sermos logo tudo que queremos ser, nos faça perder isso de perspectiva. Sempre bom lembrar, pra não se tomar cedo demais por fracassado ou perdedor, a vida continua. Temos simplesmente o resto das nossas vidas, repleta de desafios para encararmos. Cada desafio é uma oportunidade. E quando conseguimos aquilo que mais queremos na vida, ainda haverá mais novas situações das quais teremos que dar conta. Uma vitória não significa tudo. Ao mesmo tempo, temos o resto de nossas vidas para fazermos as coisas certas, consertarmos nossos erros. Tudo. É melhor ir com calma, então, antes que nossa própria ambição nos destrua. Porque ambição é para mover para a vida, não para escapar dela. “When will you realize, Vienna  waits for you?”

2 – For once in my life – Stevie Wonder. Essa música tem inúmeras  versões. Foi popularizada principalmente na voz de Stevie Wonder. A versão que prefiro é a da Gladys Knight and The pips, apesar de Stevie Wonder ser um cantor tão presente em minha vida. Todas as versões são boas, na verdade, mas a da Gladys tem um arranjo especial, parece que a própria melodia denota o sentido da música e a própria voz da cantora, que vai de um tom meio grave, meio baixo, para um canto aberto e emocionante – tudo isso nessa versão parece indicar o próprio encontro que a música descreve. Um encontro amoroso que nos completa, depois de tantos sofrimentos, de tanta procura e frustração. Ao mesmo tempo a letra da música me lembra um sentimento para o qual atento sempre: a força que nós de repente conquistamos e tiramos, não sei de onde, uma vez que amamos e nos sentimos amados.  Esse sentimento eu senti poucas vezes na vida, mas me impressionou muito e me movimentou sempre em busca de relações fortes e verdadeiras. Me lembra também uma linda citação de Freud: “Como fica forte uma pessoa quando está segura de ser amada!” E é justamente esse sentimento – que tanto me impressiona e que tanto busco – que vejo na música. É isso que a música passa, sem dizer diretamente. Canta as pequenas felicidades seguidas da certeza de se ser amado.  E esse é um lindo sentimento, que nos faz explorar e perceber plenamente nossas potências e acreditar que você podemos ser fortes o suficiente para fazer o que quisermos fazer e sermos o que quisermos ser. Lindíssima canção, herança da minha mãe.
               
3 – The greatest love of all – George Benson.  Mais uma herança dos meus pais. Dessa vez, dos dois. Essa é uma das mais belas canções de todos os tempos e nos conta um pouquinho sobre o que é a vida. Whitney Houston tem uma famosa versão, que fica linda naquele vozeirão, mas nada supera a versão original do George Benson, que tanto ouvi a minha infância inteira. Só fui descobrir a preciosidade dessa música, anos depois, quando me dei conta da mensagem na letra. É uma sabedoria muito bonita, que meus pais me passavam sem perceber e eu descobriria, já adulta - tanto na música, quanto na vida.. A música é sobre amor-próprio.  Sobre se descobrir se amando, na sua própria dignidade, se valorizar. Também é uma música – eu pressinto, embora a música não seja tão direta quanto a isso - sobre querer também que as pessoas que você ama se valorizem, em um tipo de amor que é maior do que a dependência confortável que às vezes gostamos de sentir nas pessoas em relação a nós, nos nossos impulsos mais egoístas. Tem a ver demais com amor de pais por um filho. Por isso me sinto conectada aos meus pais, de novo, por essa música. E tem a ver amar a própria dignidade, ter uma vida digna e desejar para todos, numa sentimento muito humanista e por puro amor ao próximo, que tenham o mesmo sentimento de dignidade e amor próprio.  Porque afinal, como indica a música, é só aprendendo a nos amarmos, que podemos amar o outro e também sermos amados. Por isso, “learning to love yourself, it is the greatest love of all”.

4 – Oração ao tempo – Caetano Veloso Essa música é uma obra de arte. Alegre, viva e muito real para quem para pra pensar o tempo, nossa vivência do tempo. E também nossa relação com a passagem do tempo. Está tudo ali indicado na música: a passagem do tempo nos faz perceber a vida como algo contínuo. E isso é bom porque traz aquele sentimento de “a vida continua”, apesar dos pesares.  Sentimento que nos faz ter esperanças de que,  de uma forma ou de outra,  tudo seguirá  em frente e vai melhorar e as agonias vão desagoniar. E é bom porque parece que há, na nossa capacidade de entender essa passagem do tempo como o destino, ou algo que era pra ser e que tem um sentido próprio (embora, isso seja só aparente, o tempo não necessariamente é contínuo, ou retilíneo, ou um progresso,  como bem aprendemos em História). Essa sentido que as coisas no tempo tem, no entanto, é o sentido do qual lhe incumbimos. E se às vezes não nos apercebemos disso e ficamos passivos esperando o tempo dar sentidos, não é todavia mal sinal que estejamos aqui esperando um sentido pra nossa existência. Além do mais, não posso pensar numa oração melhor para se fazer do que ao tempo. Afinal, é no tempo que tudo se dá. E é no tempo que temos que confiar para vivermos as nossas vidas. Tempo para que as coisas ruins passem e tempo para que as coisas boas venham. E tempo para nos tornarmos, com nosso espírito, como diz a música, um “brilho definido”, que só “espalhe benefícios”. Que sejamos aquilo que queríamos ser, enfim, no tempo. E que bonito desejar um tempo mais vivo nos trilhos do próprio destino. Desejar as mudanças, os processos, a vida, enfim!

 5 – Você –Tim Maia. Uma das cenas mais bonitas de romance que já vi na televisão aberta, foi numa série policial dessas de final de ano que colocam no ar porque a galera que faz programas usuais  precisa tirar férias em algum momento. E o que tornou toda a cena mágica, foi essa música. Na série, o policial mocinho que combatia os bandidos tinha uma esposa de gênio forte e um filho pequeno. O policial, claramente com problemas pra se relacionar e demonstrar sentimentos, enfrenta uma crise no casamento, mas nas vicissitudes das confusões da vida familiar e do trabalho (no qual era um pouco viciado), ele escolhe, não falando nada, mas com atitudes, o amor pela esposa e pelo filho, à se entregar a apatia e ao distanciamento da família. Aí vem uma cena lindíssima em que nada é realmente falado, mas diz-se tudo. O policial vai pra casa e senta para jantar com a esposa e o filho pequeno. A mãe está dando de comer ao filho, o pai interage com os dois. Os dois riem com o filho, há uma certa felicidade de estarem ali dividindo aquele momento, pela própria forma com que riem e sorriem e com quem brincam com o filho. Uma felicidade que parece lembrar aqueles primeiros momentos de um encontro. Como se eles se redescobrissem e se reencontrassem. Ninguém pergunta nada, nem fala nada, mas se percebe que dali, daquele momento, daquela cena, daquele contexto em que os dois se veem, se olhando de novo com um olha de esperança: tudo iria se resolver.  E aí toca essa música.  A música também não é muito elaborada em versos, mas não precisa ser, porque passa muita emoção e essa própria característica dela está em harmonia com um momento em que duas pessoas com muita dificuldade de declarar seu amor podem sentar juntas e dizer tudo que não ia sendo dito há meses, sem uma palavra sequer. E o simples jantar se transformar num ato de amor e a música vai tocando enquanto eles falam com o filho. E é isso. Não esquecerei essa cena, nessa essa música, nem esse sentimento tão bonito que me passa essa música tão emocionada. 

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