segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Primavera Carioca




Toda primavera tem seu fim. O ciclo natural das coisas é que estações do ano, como essa tal de primavera, cheguem e em algum momento, vão embora. 
É verdade? Toda primavera chega ao fim ? Não. Se no mundo natural há de ser sempre assim, a gente tem que lembrar : a Primavera Carioca veio justamente nos mostrar que no mundo da política nada é natural. Tudo é construído, logo , tudo é passível de mudança. Ciclos, repetições e caminhos comuns estão aí para serem subvertidos. Se a primavera que começou no último dia 22 de setembro, nos deixará lá por meados de dezembro, há uma outra Primavera que tem que permanecer : a Primavera Carioca. 
Esse movimento político que veio à tona junto com a campanha de Marcelo Freixo pela prefeitura do Rio de Janeiro está apenas começando. E o que vem florescendo é flor perene : é sonho, fé, perseverança. 
Ontem, Marcelo Freixo perdeu as eleições para prefeito da cidade. Mas muito enganado está quem pensa que esse é o fim da Primavera Carioca e que a seguir transbordará Um Rio que carrega em suas águas uma coligação gigantesca de partidos e que corre sempre na direção do mesmo mar de corrupção, ilegalidade, descompromisso, desmobilização e descrença na política. Nada disso. 
Essa Primavera Carioca, ela não tem fim. E mais importante, ela não é fim : não é fim do ideal, do sonho, nem do debate. Muito pelo contrário, ela é início ! Iniciou-se, como não se via em muito tempo, uma campanha alternativa a tudo que se via na cidade em termos políticos- tão bonita como não eu via há muito tempo. Campanha correta, honesta, guiada por princípios e não por dinheiro. Nasceu ( e renasceu ) em muitos o interesse pela política, a esperança de que mudanças reais e concretas são possíveis. Mudanças que escapam aos velhos paradigmas políticos do Rio. Iniciou-se um debate que foi além : não se deteve em propostas imediatas para solucionar os problemas, questionou os princípios que norteiam essas propostas e sua colocação em prática. Debates sobre o que realmente é democrático. Debates que são capazes de fazer as flores dessa primavera criarem raízes fortes e profundas, para que resistam ao tempo e às chagas. 
Não há homem mais indicado do que Marcelo Freixo, por sua trajetória política exemplar, para iniciar a Primavera Carioca. Sua campanha, com a perda de ontem, ainda foi de vitórias. Vitórias mais importantes que uma eleição.(E para falar a verdade,eu não tinha esperanças que o Marcelo ganhasse e tinha muito poucas no segundo turno ). Vitórias que foram o semear, o despertar de mobilização e debate para cidadãos desacreditados do mundo da política.
Mas não deixemos essas vitórias morrerem, vamos cultivar as flores amarelas de alegria renovada em ser cidadão, que a campanha de Marcelo nos legou. E de nada adianta para esse cultivo,  ficar furioso com o resultado das urnas, indignando-se com a maioria. Romper com a maioria jamais nos ajudará a criar um governo de todos para todos. Temos que aceitá-la, como democratas que somos. Se a maioria não votou pelos florais dessa Primavera, é sinal de que muita coisa ainda temos que fazer. Porque se acreditamos mesmo num sonho de uma cidade mais justa, cremos que ele é razoável e crível para todos. E de todos temos que nos aproximar para ver a Primavera Carioca florescer em todos os cantos da cidade.  Também de nada adianta vestir a velha (e confortável, vale a pena dizer ) camisa do conformismo e se desiludir. Só se desilude quem quer limitar muito o alcance dessa primavera. Temos que lembrar : política não se faz só em ano de eleição. Seguir agindo como se assim fosse é agir em equivalência com aqueles políticos que criticamos por só aparecerem e trabalharem em anos em que precisam da manutenção do seu poder. Nossa luta não se limita a eleger, temos que fiscalizar, acompanhar de perto aqueles que foram eleitos, suas políticas públicas, sua conduta ética. Temos que garantir que seus postos de representantes siga à risca a nomenclatura e nos represente de alguma forma. E temos é claro, que demandar, criticar, dialogar, denunciar, enfim, participar. 
Dizem que a primavera é a estação mais bonita do ano, porque é a morte vencendo a vida. Depois da secura e frieza do inverno, vem a vida, as flores, as árvores orgulhosas de tão cheias de folhas, o calor , o sol, muitas cores e muitos cheiros. Não é muito diferente a nossa Primavera Carioca. Diante da frieza e inércia da minha geração desesperançosa na política, sempre apegada ao " nada adianta tentar, porque nunca nada muda", vem alguém anunciar que NADA deve parecer impossível de mudar. E de repente, surge vida na política. Surge debate, diálogo, participação, esperança e a certeza, inspirada mesmo pelo exemplo de políticos como Marcelo Freixo, de que é possível fazer diferente e fazer dar certo. 


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