16 - Drama é algo dispensável. Muita gente gosta de sofrer. Acredito que
inclusive, todo mundo tem uma tendência a curtir um sofrimento. Há até quem faça
do sofrimento um sentido para a sua vida. Mas a verdade que as experiências da
vida vão nos mostrando é que a vida já é bem difícil sem a nossa ajuda. Então,
se as dores e perdas fazem parte da nossa existência, apegar-se a essas dores e
alimentá-las é uma escolha que eu só posso entender , cada vez mais, como uma
escolha errada (sim, serei ousada o suficiente para falar em certo e errado,
esse ponto merece). É preciso se desapegar do drama. E para isso é preciso uma
certa humildade para reconhecer, por exemplo, o quanto nós gozamos e nos
sentimos até queridos , por outras pessoas, através dos dramas que criamos ( no
caso, quando as pessoas cedem a eles.). Há quem nunca queria realmente se
desligar desse lado dramático da vida e das relações, mas para mim, drama só
tem me cansado cada vez mais e tenho entendido esse tipo de coisa, como uma
perda de tempo. Temos que desapegar dos nossos dramas solitários também, que
não envolvem os outros. Se livrar da tendência a piorar tudo que acontece
conosco, ou a radicalizar as situações que vivemos, assumindo uma visão
fatalista de mundo. Reforço: a vida já é difícil sem que a gente ajude a
dificultar. E se relacionar com as pessoas, idem. Claro que o princípio do
equilíbrio vale aqui para nos lembrar de que evitar o drama não vale se temos
que chegar ao ponto de nos tornarmos insensíveis. Mas dramatizar tudo a gente deixa
pras obras de ficção. Na vida, drama só exaure.
17- Nem toda companhia é válida. E essa não é uma conclusão fácil, que
diz respeito a uma questão de sintonia maior ou menor com as pessoas. Por
motivos óbvios, não são todas as companhias que vão nos agradar. Mas entre as
que nos agradam, é preciso aceitar que nem todas valem a pena. Há gente que
vamos conhecer e que nos farão mais mal do que bem, ainda que os momentos bons
sejam realmente bons. Ao invés de insistir nelas, é melhor se afastar. E muitas
vezes, é preciso uma certa frieza para isso, uma vez que podemos acabar
gostando bastante de pessoas que nos fazem mal. Mas senso de autopreservação
não é falta de amor. Muito pelo contrário. Quando nos preservamos aí sim
estamos dando uma prova de amor para quem gosta de nós, nos tornando realmente
preparados para amar e cuidar gentilmente das pessoas, sem a urgência de uma
dependência do amor alheio para amarmos a nós mesmos – dependência essa que muitas vezes nos leva a cometer atos
invasivos, de exigência do amor do outro. Então acho que é possível e produtivo
encarar a frieza que é necessária para nos afastar de quem nos faz mal, como algo
bom e até como uma prova de amor àqueles que nos fazem bem. Há muita gente por
aí que não vale a pena, mas tenho aprendido principalmente sobre as pessoas que
querem construir relações sem reciprocidade, porque acreditam que o mundo gira
em volta delas e tudo na existência está deveria estar disposto para atender às
suas necessidades. Essas são pessoas normalmente muito egoístas e são as que
pra mim não valem muito esforço, uma vez que reciprocidade vem se mostrando tão
essencial para me fazer feliz.
18 - Gentileza gera gentileza. Em uma saga que marcou minha adolescência
– Harry Potter – alguém, que não me recordo quem é, relata ao próprio Harry
sobre como a mãe do órfão, que ele nunca chegou a conhecer, era gentil. Então,
essa mesma pessoa , faz um comentário que muito me marcou. “A gentileza é uma
qualidade subestimada.”. Eu não poderia concordar mais. Falta gentileza no
nosso mundo. O preço pela quebra de muitas convenções sociais que se
constituíam em um excesso de gentileza que beirava a hipocrisia, talvez tenha sido
a constituição de um cenário em que muitas pessoas acreditam que para se
afirmarem, precisam jogar “verdades na cara das outras pessoas” o tempo todo.
Pera lá! Que verdades são essas? E de quem são, essas verdades? Falta gentileza
no mundo. Gentileza de entendermos, por exemplo, quando nos relacionamos nas
pessoas que o tempo todos projetamos nossas esperanças e expectativas sobre
elas. E também as nossas frustrações e complicações. Vamos dar um conselho e
projetamos as nossas histórias e decepções nas histórias delas. Isso muitas
vezes configura uma atitude invasiva, que não só magoa a pessoa como pode desestimulá-la
a fazer o que quer. É preciso atentar mais para a teoria da relatividade. Cada
história é uma história, temos que respeitar as histórias das pessoas e sermos
cuidados também com os que nos cercam, no sentido de não invadi-los. Claro que
é também responsabilidade dos aconselhados seguir conselhos acriticamente, mas
não há necessidade alguma de agredirmos nossos semelhantes com os traumas que
já nos agridem. E vamos mais uma vez nos valer do princípio do equilíbrio.
Depois de longa e cuidadosa análise, talvez ser um pouco invasivo e contundente
possa sim ajudar nossos amigos (é, o princípio da relatividade também atinge a
esse tipo de situação dessa forma). Além disso, há outras gentilezas que
precisam ser mais cultivadas. É preciso ser gentil sim, muito mais, no sentido
clássico. Nos permitirmos nos admirarmos pelas pessoas - por exemplo, um tipo de
gentileza, diante do nosso egoísmo que nos faz querer se melhores e mais
especiais em tudo. Daí vem a gentileza de sabermos elogiar as pessoas,
sinceramente, também. É preciso também ser gentil para valorizar o que as
pessoas fazem e é preciso ser gentil para com nós mesmo, para nos valorizarmos
também e nos preservamos. Por último, é preciso, principalmente na vida adulta,
sermos gentis no sentido de aprendermos a partilhar nossas vidas, o que também
é uma espécie de gentileza, quando temos muito a fazer e porque para sermos
adultos completos, é preciso cultivar uma espécie de egoísmo sobre nossos
assuntos, só para depois aprendermos a abrir mão dele( mas ainda assim, é algo
necessário).
19 – A vida adulta exige certo egoísmo, retomando o que eu acabei de
dizer. É preciso cultivar um egoísmo do tipo bom, na maturidade. Só assim
conseguimos construir os nossos sonhos, entendendo que temos que abrir mão de
compartilhar nossos momentos para investir em gozos muito pessoais e
solitários. Há de se cultivar algum egoísmo também para aprender a se
preservar, enquanto vamos entendendo o tipo de pessoa que não vale nossos esforços
e nos faz mal e das quais temos que nos afastar. O egoísmo também tem que
nascer em relação a nossa rotina, no sentido de dedicarmos mais tempo a tarefas
que digam respeito à concretização dos nossos – e totalmente nossos – desejos.
Em muitos momentos, isso significa abrir mão de tempo com a família, com os
amigos, com o namorado. E uma resistência pode surgir por parte dos nossos
entes queridos, mas é preciso persistir, lembrando sempre que só nós e nenhum
deles, por mais que nos amem, podemos lidar com as consequências das nossas
escolhas.
20 – Há sempre um quê de solidão na vida. Uma das coisas mais difíceis
de serem aceitas por pessoas carentes (como é, muito sabidamente, o meu caso)
é: a solidão é inerente à condição humana. Pela impossibilidade que existe de
sermos os outros(“os outros” só existem sempre em condição de alteridade),
jamais poderemos compartilhar totalmente de todas as suas impressões e dos
pequenos momentos e sutilezas que fazem do outro o que ele é, que é alternante
em relação ao que eu sou com minhas memórias, momentos e sutilezas. Pela
singularidade de cada existência, há sempre solidão no homem. Mal podemos
compartilhar coisas que são tantas vezes ativamente mostradas para nós, já que
é, por vezes, muito difícil compreender as pessoas. Uma vez que aceitamos esses
limites, no entanto, a solidão não parece nem tão assustadora, nem com uma
condenação pessoal. Solidão faz parte. Por muitas vezes, inclusive, é saudável.
Se conseguimos ficar bem e em paz, com a nossa própria solidão, sem associá-la
à falta de amor e à rejeição, muita coisa na vida pode mudar. A aceitação da
solidão talvez seja um dos processos mais importantes pelos quais as pessoas
podem passar para se tornarem felizes. Porque nos prepara justamente para abrir
mão da nossa dependência dos nossos afetos
- o que foi tão citado aqui como algo importante no caminho para levar
uma vida mais feliz. Ao mesmo tempo, mais uma vez, retomo o princípio do
equilíbrio. Conviver bem com a própria solidão não pode se transformar em
desejar a solidão, porque isso, pela minha experiência, não passa de uma defesa
para não nos expormos aos riscos de nos assumirmos como pessoas que queremos
ser amadas. E nunca conheci ninguém que não quisesse (que bom!), ainda que
existam pessoas que disfarcem essa vontade melhor do que outras.
21 – Ter senso de humor torna tudo mais fácil. Uma das minhas heroínas
de romance favoritas é a Elizabeth Bennet de Orgulho e Preconceito. E uma das coisas mais interessantes que eu
acredito que ela declarou para seu par, o sempre muito querido Mrs. Darcy, é o
quanto eles são contrastantes, porque ele era muito sério e ela adorava rir.
Compartilho muito disso. Gosto muito de rir e cada vez mais percebo o poder que
tem os momentos de riso compartilhados, por exemplo. Mas além de rir das coisas da vida, ter senso
de humor inclui saber rir um pouquinho de si mesmo, se assumir em suas
ridicularidades, sem achar isso o fim do mundo, porque todos nós somos um
pouquinho ridículos e às vezes muito das nossas melhores coisas vem à tona
quando estamos sendo “ridículos”. Dessa maneira, a gente consegue tirar um pouco o peso das coisas que vivemos, o que nos permite, inclusive, pensar melhor sobre elas e desfazê-las de qualquer concepção dramática que estejamos tendo.
22 – Happiness is only real when shared. Last, but
not least. Tudo na vida é melhor, quando se está acompanhado. Poucas sensações são melhores, talvez nenhuma sensação seja melhor, do
que aquela de que você está realmente
sendo acompanhado. Uma companhia verdadeira, é difícil de se encontrar hoje em
dia. Tem muita gente por aí investindo em “afeto” só pra fazer número (número
de contar e número de circo) em rede social. Mas há também muitas pessoas que
possuem aquela gentileza que já citei aí em cima, de compartilhar com você um
pedaço das suas vidas e dos seus sonhos e com quem você pode fazer o mesmo - são
elas as mais importantes de se cultivar no seu caminho. É essa gente bonita,
que torce por você , como se tivesse torcendo pra si mesmo, que vibra com você,
fica chateado com você, se algo dá errado e que está com você no dia-a-dia. Não
estão só nos momentos bons, porque isso é muito fácil. Nem só nos momentos
ruins, porque isso é sadismo. Companhia sincera e verdadeira é aquela com a
qual você pode contar no seu dia-a-dia, na sua luta diária, pra compartilhar
alegrias e tristezas, para ser ajudado e ajudar. Para mim, poucas coisas me
fazem mais feliz do que já ter compartilhado meu caminho com companhias assim e
compartilhar ainda hoje. A vida vale a pena quando pode ser compartilhada. E se
o que importa dos nossos sonhos, não é exatamente o ponto de chegada, mas a
jornada que traçamos, ter alguém pra te acompanhar na sua jornada , alguém que
te ajude a construir seu sonho, é a coisa mais bonita que se pode ter. Não há
amor mais bonito do que aquele que ajuda o ser amado a construir a
independência do próprio amor. Por isso talvez o amor de pai e mãe seja o mais
admirado que existe. Falo então de companhias que não inspiram nem dependência,
mas inspiram coisas boas e inspiram pra vida .E viva às companhias verdadeiras,
que dividem com a gente a grande aventura das lutas diárias, se preocupando
conosco e dividindo conosco – a essas, aprendi que devo dar toda a minha
dedicação e carinho.
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