10 – É preciso tentar fazer o melhor que se pode fazer. Até agora se
falou em sonhos, expectativas, objetivos e perspectivas, mas vamos agora para o
lado não tão bonito. Não importa o que você quer ser da vida, o que quer fazer
com ela, é preciso batalhar para as coisas acontecerem. E como em toda a batalha,
há muito que não é bonito, nem ideal como são as nossas expectativas. Todo
sonho tem um lado cotidiano, arrastado e difícil. É preciso se esforçar todos
os dias! A luta e o esforço tem que ser constantes e nós temos que nos esforçar
o máximo que podemos para fazermos aquilo que nos propomos a fazer. Essa é
condição essencial para se viver os sonhos que construímos para as nossas
vidas, mas também para viver, de forma geral. Somente assim teremos a sensação
de nos apropriarmos das nossas vidas e das nossas próprias questões, pois
saberemos que estivemos inteiros ali, disponíveis para elas. É preciso dar o nosso
melhor – ou ao menos, tentar dar – em tudo que fazemos. Nem sempre o nosso
melhor será, é claro, o suficiente para atender nossas projeções sobre os
resultados dos nossos investimentos. Ainda assim, a única forma de ter paz
interior, é se saber totalmente e cada vez mais (quando não for suficiente, que
se tente mais ainda!) envolvido com a própria vida. Aliás, “ser envolvido com a
própria vida” pode parecer uma redundância. Como viver sem estar envolvido pela
própria vida? Ledo engano achar que estar envolvido na própria vida e nas
próprias questões é inerente a viver. Quantas pessoas que conhecemos que vivem
em um mundo de idealizações, alheios à própria realidade? Ou quantas pessoas
vivem o sintoma do eterno adiamento daquilo que querem fazer ? Quanta gente não
deixa pra começar a vida no dia seguinte, todos os dias? Quantas pessoas estão
vivendo a fábula da espera pelas condições perfeitas para começarem a se esforçar e caminhar em direção às coisas que tem vontade de fazer? Mas ao mesmo tempo,
que sensação melhor e mais saudável pode haver do que aquela de que você está
vivendo a sua vida? Que você está agindo, construindo, trabalhando e criando e
não está passivo diante dos acontecimentos do mundo e daquilo que te causa? É
preciso estar em dia consigo mesmo pra ser feliz e isso exige esforço, coragem
para lutar contra a preguiça e vontade de viver ! Por outro lado, a condição
mesma de tentar dar o melhor nas várias esferas de vivência que compõem a
tessitura das nossa vidas exige que nos coloquemos limites. Dar o nosso melhor
implica em um limite bem na medida do quanto podemos nos esforçar pra cada
pedacinho da nossa vida sem mitigar o outro. Em alguma momentos, uma parte de
nossas vidas terá prioridade, em outros, nem tanto, mas não dá para abandonar
nunca o esforço de dar o nosso melhor em tudo que somos e fazemos, porque só
assim somos completamente tudo que somos.
11- Ser adulto é bom. Se é preciso estar envolvido com a própria vida,
não há momento mais propício pra isso acontecer do que a maturidade. Há quem
passe a vida adulta se ressentindo das responsabilidades que ela implica, mas
eu não poderia estar curtindo mais ser uma pessoa adulta, maior de idade e com
cada vez mais responsabilidades. Quando vai chegando essa época da vida, cada
vez mais nossa vivência diária vai exigindo responsabilidades de nós. O momento em si nos obriga a nos apropriarmos de coisas que antes eram resolvidas por
outras pessoas para nós. Passamos a lidar com responsabilidades cada vez
maiores, conhecer processos burocráticos, entender as obrigações práticas do
dia-a-dia. Para mim esse processo foi ainda mais significativo pelo fato de que
a minha maturidade veio com a saída de casa. Moro, a maior parte do meu ano, já
há um tempo, em outra casa e outra cidade, longe dos meus pais. Isso me fez
valorizá-los muito mais, inclusive, porque eu pude e posso entender, cada vez
mais, a trabalheira que dá, a manutenção de uma vida adulta, em todos os
pequenos detalhes que permeiam a nossa existência. E digo isso para as coisas
mais ordinárias inclusive. Somos obrigados a perceber que há de se dar conta do
lixo que produzimos, da manutenção e limpeza das coisas materiais que
conquistamos, percebemos como a vida é cara, que é preciso garantir o pão nosso
de cada diz ( seja garantindo a farinha, como preparando a massa) e que enfim,
uma vida custa. Não apenas no sentido financeiro (que é um sentido bem
importante, na verdade), mas custa esforço, zelo e que é preciso dar conta de
nossas responsabilidades. De repente também, quando nos pegamos adultos,
inúmeras novas responsabilidades vão sendo exigidas: prazos se tornam cada vez
mais sérios, assim como as consequência das nossas ações e das nossas não ações.
Afinal, tudo agora não é mais para um futuro distante, quando adulto você já
está a todo momento, construindo sua carreira, seu futuro profissional (agora!)
e que cada momento é importante para investir nessa faceta nossa que será
sempre tão importante e definirá tanto do que somos (embora não possa de jeito
nenhum definir tudo). Quando se é adulto, o mundo espera mais de nós, as
pessoas e nós mesmo também. Há quem sofra bastante com esse novo mundo de
responsabilidades, mas é possível também encarar como o momento mais propício
da vida para começarmos a viver nossos sonhos. Afinal, enquanto aprendemos a
ter responsabilidades maiores e mais numerosas, pegamos uma certa manhã sobre o
que é assumir responsabilidade e daí em diante, podemos assumir também as
responsabilidades que temos que assumir para com e por nós mesmos se queremos ser felizes. Além disso,
a maturidade exige escolhas importantes: uma vez que você tem que se concentrar
em construir uma carreira e algo de importante pra sua vida, que te sustente e
torne independente, isso demanda tempo e concentração acerca das coisas que são
necessárias para esses desejos (e até necessidades) se concretizarem. Você acaba
tendo que escolher, um dia da sua vida, entre terminar o trabalho da faculdade,
a leitura para monografia, entregar o relatório do trabalho no prazo certo, e ficar por
exemplo, em casa curtindo uma fossa eterna por causa de uma briga com um
namorado. Você percebe que não há muito mais espaço para dramas adolescentes na sua vida, porque
há muitas coisas acontecendo e você não pode ficar preso aos sentimentalismos
excessivos da adolescência. Aliás, você percebe que tem escolher entre ficar
preso a isso e sofrer as consequências depois, ou viver sua vida e atender às suas responsabilidades. E isso é
muito importante, porque aí está um ótimo material tanto para trabalharmos como
tudo na vida é uma questão de escolha, como para entendermos que precisamos construir
algo para nós, além da vivência das nossas afetividades e do mundo social que costuma ser intensa na
infância e na adolescência. Resumindo: os saudosistas que me perdoem, mas cheguem sua Síndrome do Peter Pan pra lá! Ser adulto é muito bom. É um momento
perfeito para construirmos a nossa felicidade e nossa independência, que depois
de um certo momento da vida, acabam mesmo estando muito intimamente ligadas. 11-a) Essa lição sobre a vida adulta e as
responsabilidades que ela carrega me rememoram uma outra lição, essa de cunho
muito pessoal, que talvez não seja válida para tantas pessoas, mas que é muito
importante pra mim. Eis ela aqui: Rotina
é uma coisa boa. Há que não suporte viver dela, mas para mim, criar e viver
uma rotina e se esforçar para seguí-la é a melhor coisa que se pode fazer para
traduzir a construção dos nossos sonhos em ações diárias que darão concretude a nossa
jornada. Além disso, eu vivo um prazer imenso, beirando o irracional, em manter
uma rotina (ainda que seja uma coisa realmente muito, muito difícil), pela
sensação maravilhosa de consistência e constância que ela me proporciona.
12 – É preciso ter paciência. Minha mãe diz que minha bisavó sempre
dizia: “É preciso ter paciência até pra sofrer”. E essa sabedoria eu levo para
vida. Todo e qualquer sofrimento é duplicado pela ansiedade e toda e qualquer
felicidade é diminuída pela metade, pelo mesmo motivo. Paciência talvez seja
uma das coisas mais difíceis de aprender para o nosso mundo do
tudo-ao-mesmo-tempo-agora, mas também é uma das mais importantes. É preciso ter
paciência com nossos caminhos, que são muitas vezes tortos, é preciso ter
paciência para esperar pelo que se quer, senão é possível que não se consiga,
por puro cansaço, é preciso muitas vezes, paciência para as coisas irem se
resolvendo, porque simplesmente há momentos em que não há nada a se fazer
quando algo está ruim, é preciso paciência com as pessoas para garantir uma
postura correta frente aos nossos semelhantes e é preciso paciência com nós
mesmos para a gente conseguir esperar pelas transformações que acreditamos
necessárias para os nossos caminhos. A vida é feita de processos e temos que respeitá-los. Mas paciência, é bom lembrar, não é
passividade, não é aceitar qualquer coisa que as pessoas fazem com você, nem
muito menos é benção. Paciência é treino ! Então lembremos disso sempre que
possível, para a exercitarmos.
13 – Perdoar significa libertar. Falando em lições muito difíceis de
serem aprendidas, mas muito importantes, é preciso lembrar do perdão. Todas as
grandes e importantes doutrinas e filosofias de vida e religiosa ensinam sobre
o poder do perdão. Posso falar com algum (mínimo e torto) domínio sobre a
tradição cristã. Não quero fazer propaganda religiosa, até porque, não sigo
nenhuma religião. Mas acredito que o que há de mais importante em cada religião
é onde elas ensinam não como viver para a morte, mas sim como viver para a
vida - é o caso das lições sobre perdão. É bem sabido que o tal Jesus Cristo tinha muitas e bonitas histórias
sobre perdão e sobre perdoar – que era um papo muito revolucionário na sua
época do “olho por olho, dente por dente” e que persiste revolucionário ainda
hoje. Talvez seu mais simbólico caso de perdão seja aquele dado a Maria Madalena, quando ele se compara, enquanto pecador, à uma prostituta, o
que mexe com questões que desafiam toda a moralidade da sua época, a sociedade
masculina e machista em que vivia, mas também incomoda em questões muito irracionais
como as que são sempre as que dizem respeito à sexualidade e moralidade. É
preciso saber perdoar mesmo os casos que nos desafiam hoje, como o caso de
Maria Madalena desafiou sua época. E o primeiro passo para isso talvez seja
entender e compreender a condição humana como uma condição limitada,
inconstante e falha. E claro, como tentou demonstrar Jesus, isso é assim para
todos. Todo mundo erra sempre, todo mundo vai errar, já dizia a sábia música.
Não adianta se apegar ao erro dos outros e se ressentir para sempre deles. É
preciso tentar compreender as pessoas e fazer um esforço ativo para construir o
perdão, entendendo, inclusive, o quanto das nossas decepções não dizem respeito
a expectativas que nós mesmos criamos e projetamos nas pessoas e sobre as quais
elas não tem responsabilidade nenhuma, só nós temos (isso ajuda muito para
começar a perdoar). Depois disso, temos que aprender a nos colocar no lugar das
pessoas, o que não é muito fácil e precisa do de um esforço relativizador e
muito racional da nossa parte. Mas é um esforço que vale a pena. Perdoar as
pessoas nos liberta, porque quem guarda ressentimento é quem realmente fica
escravo das situações ruins. Mais importante ainda do que perdoar os outros,
talvez seja a lição sobre perdoar a si mesmo. Maria Madalena, viveu como santa
porque pode perdoar a si mesmo e a seu passado. É só perdoando a nós mesmo que
podemos nos aceitar melhor e construir nossos caminhos longe das frustrações
que tivemos com nós mesmos no passado. É preciso perdoar as nossas próprias
escolhas erradas, caminhos tortos e incapacidade. Não é possível viver o que
queremos se antes de construir uma coisa verdadeira estamos sempre tentando nos
compensar a nós mesmo por um passado infeliz. Além disso, talvez a única
maneira de aprendermos a perdoar realmente as pessoas, seja primeiro,
aprendendo a nos perdoarmos. Esse história de perdão nos leva muito diretamente
a um outro fato:
14 - Cultivar raiva só faz mal a quem a cultiva. Sentir raiva é uma
coisa comum, e, querendo ou não, humana. Cultivar a raiva, já é outra história.
O tempo passa, as coisas mudam, o choque das decepções se dissipa e isso é uma
oportunidade que a vida nos dá para vivermos bem. Se escolhemos, no entanto,
não nos entregarmos a esse processo natural e ficamos alimentando a raiva pelas
situações ruins que aconteceram, ou os conflitos que despontaram no nosso
caminho, estamos plantando a semente da autodestruição. Raiva só faz infeliz as
pessoas que escolhem se apegar a ela.Todos os outros envolvidos na situação que
despertou a raiva e que escolheram seguir em frente, podem até ter sido os
errados da história, mas serão aqueles que poderão ser felizes. Ser feliz vale
mais do que provar às pessoas de que se está certo, nas nossas situações de
conflito. Até porque:
15 – Você não tem que provar nada a ninguém. Esqueça qualquer sentimento
de dívida que não seja com os seus próprios princípios, os seus sentimentos e
a sua vontade. Não fomos colocados e um mundo tão bonito para passarmos o resto
das nossas vidas tentando provar para as pessoas que somos bons. O sentimento
de que temos que corresponder às expectativas sociais sobre nós, é um
sentimento baseado em uma terrível necessidade de aprovação que como nós já
dizemos, é mais destrutiva do que construtiva. Não há caminhos certos e
errados, há caminhos singulares e não há porque desperdiçar tempo e energia
tentando provar às pessoas que somos bons, ou que somos isso, ou que somos
aquilo e que as escolhas que fazemos são mais ou menos corretas. Primeiro, porque as pessoas
veem o que elas querem ver. Segundo, porque ninguém que está esperando algo de
nós vai realmente alguma vez na vida viver todas as consequências que teremos
que encarar se quisermos colocar a frente de nós mesmos a vontade de atender e
corresponder às projeções alheias. Se há algo que você quer provar a alguém,
isso tem que passar antes por você, por uma vontade sua de ser algo, ou por um
princípio moral seu – e unicamente seu – ao qual você precisa corresponder. Não
há ninguém no mundo que possa nos dizer o que fazer , ou a melhor forma de
fazer. Não podemos colocar a nossa vida em função de provar algo nem mesmo aos
nossos pais, que nos deram a vida e que muitas vezes fazem tudo por nós. Nada
disso significa ser ingrato, mas a gratidão tem que ser um sentimento sincero
que parta de você e não uma obrigação de provar algo a alguém, ou compensar um
sentimento de dívida.
(Continua.)
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