Me arrependo de ter sido tão cruel e
tão injusta com você, tantas vezes, coisa que você nunca o foi. É verdade que
você tem uma certa delicadeza, uma postura respeitosa, até diante dos conflitos mais pessoais, que eu não tive.
Me arrependo porque ainda fico nos vendo como
tão confluentes em nossas escolhas e até nas coisas mais simples. No
virtualíssimo contato que ainda tenho com a sua ausência, ainda vejo as coisas
que você faz, que você valoriza, que você curte e antes mesmo que você possa
fazê-lo, eu já sei que o fará, só porque também foi minha vontade agir da mesma
maneira.E às vezes até sem eu ter ideia, nos vejo confluindo,como se uma força
nos puxasse para os mesmos lugares até nos detalhes mais inimagináveis. Isso é
a força do que construímos juntos, do novo eu e do renovado você, que brotaram
de nós? Ou é algo maior e mais transcendental,já que até naquilo que nunca
declaramos um ao outro, nos aproximamos?
Me arrependo da minha própria
solidão, das dificuldade que é pra mim vivê-la. Esse sentimento de eu-deserto,
de não haver uma pessoa sequer no mundo que se importe de maneira a me fazer
sentir única e especial. Como você pode ver conforto nisso, não sei.
Me arrependo de, quando você primeiro me disse que não sabia se estava tão
envolvido como eu, eu não ter visto isso como um medo seu, tão agarrada que eu
estava aos meus próprios medos. Me arrependo de neste momento ter despejado um
monte de frustrações e ter começado a falar dos seus defeitos, como num ato
desesperado pra rejeitar um pouco também, aquele que me rejeitava. Mas será que
depois de tanto tempo, de tanta coisa que tinha acontecido entre nós e de
tantas vezes que você voltou e me deixou pra trás de novo, por motivos tão
parecidos, eu poderia esperar algo diferente de mim mesma?
Me arrependo porque uma vez você me
disse que eu era a pessoa mais equilibrada que você já conhecera, porque apesar
de todos os nossos desentendimentos, eu jamais havia te faltado com respeito,
jamais tinha tentado te machucar gratuitamente, ou propositalmente. Eu gostei
de me pensar assim desse jeito novo pela luz que seus olhos lançavam. Agora,
depois d'eu ter por tantos meses insistido em falar com você, ou em brigar com
você, vez após vez, você já não deve ter a mesma opinião. Talvez seja justo,
porque eu mesma sei que não fui justa, que te machuquei e não considerei a sua
própria fragilidade, diante da minha.
Me arrependo por ficar achando que
você pode ter me deixado porque no fundo me acha uma fraude, que nunca me
entreguei de verdade para os meus próprios desejos como você se entregou para os
seus.
Me arrependo de ter me tornado tão
amarga, de ter ficado tão triste nos últimos meses que pouco tinha forças pra
viver. Me arrependo de ser tão dramática, todo o tempo e de nunca mais ter
conseguido levar as coisas entre nós, de forma mais leve(talvez sirva de consolo
que isso não é assim só entre nós?). Me arrependo de não ter te deixado me
ajudar, me elogiar e participar das minhas coisas, nas últimas tentativas,
quando você oscilava entre se afastar e se aproximar e curtia o que eu postava,
curtia foto, mandava mensagem, ou falava o quanto não resistiu a uma foto minha
antiga, de quando eu era criança.
Me arrependo da minha própria
infelicidade e de sofrer tanto e por tantos meses.
Me arrependo de todas as palavras de
ódio que dirigi a você, quando tudo que realmente e acima de tudo dói, por baixo
de todo o ego contrariado, é a falta tão grande que você me faz. E é ela que
realmente me faz chorar.
Me arrependo de não ter sido mais,
não ter sido mais impositiva, mais forte, ter te convocado mais para vida, como
você me convocava.Eu ficava passiva, deslumbrada diante da sua energia e força.
Mas você precisava que eu te chamasse, demonstrasse mais também a minha
participação por escolha própria, você precisava, eu acho, até que eu te
respeitasse menos em alguns sentidos, que eu te idolatrasse menos.
Me arrependo de ter me tornado quem
eu sou agora, porque a maior parte do tempo,não me sinto eu mesma, só uma cópia
mal feita e mal desenvolvida. Não consigo no meu dia-a-dia e na minha vivência
cotidiana, expressar tudo o que eu sou e com você, eu conseguia.
Me arrependo porque me tornei só
raiva, recalque, insatisfação e eu não sei muito bem como fazer pra sair disso.
Me arrependo da minha falta de amor.
Me arrependo por não conseguir me
entregar pros sentimentos de que eu sou maior do que tudo isso, maior do que
minhas dores mesquinhas.
Me arrependo da falta que você não
sente de mim e me arrependo de me achar uma fraude tão grande, de me depreciar
tanto,quando talvez eu não mereça. Me arrependo uma hora no sentido de
destratar a mim mesma, outra no sentido de não me destratar o suficiente.
Me arrependo de não conseguir me
entregar para o sentimento de amor universal que tudo perdoa e a tudo ama,
porque tudo é amor.
Me arrependo de não poder voltar no
tempo, como se isso fosse não só possível, mas minha única e total
responsabilidade, quando não é nada disso.Sinto saudades, tantas saudades, dá
época que nos conhecemos, aquele entusiasmo e a forma como você parecia
realmente estar se apaixonando também. Faria tanta coisa diferente, e tanta
coisa eu faria a mesma coisa igual.
Me arrependo de ter usado suas
fraquezas contra você, ter jogado-as na sua cara e ter colocado tanta ênfase
nelas, como se você jamais tivesse mudado, ou evoluído em nada apesar d'eu ter
certeza que só foi ficando cada vez mais difícil te deixar pra trás, como você
me deixava, porque cada vez mais eu me sentia próxima, tocada, amada.
Me arrependo por você,como se eu
pudesse, de você não ter jamais decidido que eu valia a pena, que nós valíamos
a pena o suficiente para você deixar esses medos pra trás.
Me arrependo por você, porque queria tanto que mudasse a sua
opinião, de todo o peso que você avalia nos cercando sempre, por conta de todo
o nosso histórico e que impediria para você que tudo soasse natural. Me
arrependo porque você não enxerga esse peso como a base de todas as coisas boas
também e não só as ruins. Me arrependo porque não parece que você entende esse
peso como o motivo, afinal, pelo qual tivemos importância um para o outro. Me
arrependo porque seu próprio impulso de aprofundar as coisas foi que construiu
esse peso também, ainda que, chegando ao profundo, você não consiga
sustentá-lo, por medo, por fraqueza, por seja o que for.
Me arrependo porque posso ver um
dia, você dizendo pra outra pessoa por quem você esteja apaixonado, que eu não
tive tanta importância assim, porque no final das contas, você não ficou
comigo. Mas essas coisas que são suas, cabe a mim me arrepender? O que eu
poderia ter feito? Poderia ter feito algumas coisas de outra maneira,mas isso
realmente garantiria o fim do medo que é seu e contra o qual, só a sua própria
força pode lutar?
Me arrependo de ainda estar tão envolvida
nessa história e tão tomada por aquilo que você se recusa a viver. Me arrependo
de nunca ter sido mais como você, de nunca ter querido realmente alguma na vida
tanto e com tanta força, como eu quis, e ainda quero, ser amada. Me arrependo
porque também acho que ser amado é também tão importante pra você, que você
recusa totalmente a importância desse ponto que é o único que ainda te é muito
difícil. Você tira o peso disso, como se fosse algo que naturalmente fosse vir.
Mas não é, nem é leve pra você, como você queria que fosse.
De todas as outras coisas das quais
também poderia me arrepender, não me arrependo de mais nada. Não me arrependo
de ter amado, nem de ter vivido. E tudo que eu vivi foi tanto (será que você
também sente ainda que viveu tanta coisa assim comigo?), que acho que essa é
uma lista bem breve(valeu a pena, então, mesmo doendo tanto?) de
arrependimentos.
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