Atenção, esse post contém spoilers...de uma série de televisão finalizada há dois anos.
Perigo maior mesmo é a grande quantidade de babação pela série, vinda de uma fã apaixonada.
Leia por sua conta e risco.
Na
segunda-feira passada, terminei de ver a série Lost. Vi o último episódio da
última temporada dois anos depois da estreia do mesmo. É claro que também só
comecei a ver a série muito tempo depois dela ter sido concluída – esse ano, de
2012. Talvez alguns me achem meio “fora do tempo”, ou “fora de moda”. Mas bem, pra
quem estuda/quer estudar um século que já acabou não há dois anos, mas há
duzentos anos, não há culpa alguma em se interessar, assistir e viver como
inédito, um seriado já tido como “antigo” (e que logo, logo, aparecerá listado
como clássico nos espaços especializados, aposto).
Eu
gosto de pensar – ainda mais de tantos meses sendo impressionada pelas tramas
que o destino tecia em Lost – que eu e a série tínhamos que nos encontrar em
algum momento. É como se de alguma forma ela tivesse sempre sendo sugestionada
para mim, até que finalmente – e em um momento muito oportuno, por clichê que
possa parecer – nos encontramos. Meu irmão e meu primo-vizinho são grandes fãs
da série e sempre estavam falando muito bem dela pra mim, desde seu início. Principalmente
me falaram muito bem do episódio “O Salmo 23”, da segunda temporada. Lembro que
se emocionaram tanto com esse episódio, que senti que havia algo de importante
nele e até quis ver, mas não vi. Quando não estava escutando elogios à série em
casa, na escola (meu único outro ambiente de sociabilidade à época, de fato)
amigos muito queridos também vinham fazer grandes declarações de amor à
história de Lost e eu escutava curiosa, mas sem me sentir comovida a ponto de
querer ver. Das inúmeras vezes que escutei “você tem que ver” antes do ano de
2012, jamais poderia imagina o quanto isso era verdade. Eu tinha que ver. E a
prova disso é que, depois de tantas vezes ter sido recusa mesmo posta nas
melhores palavras diante de mim, a série voltou a bater minha porta. Dessa vez,
ela vinha armada de um afeto imenso e muito doce. E diante do argumento do
afeto, eu pouco tenho como recuar. Por afeto e também por causa de uma mente
com grande poder argumentativo, eu me aproximei da série. Assisti-la nesse
momento, afinal, era uma oportunidade de criar laços com alguém que chegava em minha vida e que eu queria que ficasse. E todo esse parágrafo foi
papo de quem de repente acha que foi unida à Lost pelo destino. Se é verdade ou
não, vai saber.
Comecei
a ver Lost em fevereiro de 2012 e terminei essa semana, em novembro do mesmo
ano. Se demorou tanto, não foi por preguiça, nem desânimo com a série, mas
porque coisas dolorosas acontecem. E algo aconteceu que me deixou
impossibilitada por muito tempo de assisti-la. Somente uma curiosidade muito forte
me fez querer voltar a ver. Afinal, eu parei de assistir justamente no último
episódio antes daquele chamado “O Salmo 23”, o mesmo que havia feito meu primo
chorar e pensar muito em Deus. Eu tinha que ver, enfim e entender a história do
Mr. Eko, que me havia sido narrada algumas vezes por um primo e um irmão
animados e da qual eu já tinha visto algumas cenas sem reter nada de
significativo. E a história do Mr. Eko era sobre redenção. “Auto-redenção”. Se
permitir ser o que quer e o que se acredita, independentemente da culpa por todo
um passado não o sendo. Passei muito
tempo achando que havia certas coisas que eu nunca “poderia” ser. Feliz, inclusive.
E bem quando algo aconteceu para ir me provando ao contrário e ir me fazendo
mudar de opinião, esse mesmo algo foi rapidamente tirado de mim. Esse gostinho
de mudança importante e quase amarelo de tão alegre me encheu de esperanças e
então foi embora. Eu poderia ter entendo que então, isso era só mais uma prova
das coisas que eu não “poderia” ser. Assim como muitos, inclusive o próprio Mr. Eko, pensariam que ele não poderia ser
padre por seu passado violento, eu pensava que não poderia ser feliz por ter sido eu. Mas
quando perguntam ao Mr. Eko, se ele era um padre, mesmo diante de todo o
passado tenebroso que o episódio mostra, ele diz que era. E eu acreditei que
era. Então achei melhor continuar mudando de opinião, ao invés de cair no lugar fácil
de reforçar uma posição de auto-condenação que confortavelmente me impedia de lutar.
Desse
episódio em diante, nunca mais tirei os olhos de Lost. Foi pra lá que corri a
maior parte do meu tempo livre, até terminar a série (confesso que enrolei um pouco
quando o final ia chegando, porque não queria que chegasse, mas no geral,
assisti as quatro temporadas e meia que restavam, quase vertiginosamente de tão
rápido). E foram inúmeras às vezes em que parei, sentei e refleti sobre coisas
da minha vida a partir da luta dos personagens de Lost com seus próprios
dramas, suas culpas, suas alegrias e incertezas. Dramas, aliás, nunca pouco
complexos e muito bem trabalhados. Muitas reflexões vieram, algumas maiores ou
tão importantes quanto a que eu tive com o Mr. Eko. Me envolvi muito com os
personagens : Kate, Desmond, Jack, Saywer, Sun, Jin, Hurley, Charlie, John, com
todos – até com o Ben. Uma hora os
amava, outras odiava, depois os entendia e amava mais ainda – sendo a minha
única constância em quesito de simpatia e amor, o Hurley. Ria, chorava, me
divertia, me emocionava. Ficava com raiva e puta também, às vezes
(principalmente com o Jack, pra ser sincera rs). E me misturei naquelas
histórias tão humanas, aprendendo um pouco com elas. Tudo isso, em meio a
muitos mistérios, que creio eu, são essenciais pra seriados de televisão e
também pra vida (gente que leva uma vida sem mistérios perde toda graça da mesma). Isso sem contar as situações e reviravoltas chocantes que chegavam a me
fazer levantar e ter que andar um pouco pra pensar em que porra estava
acontecendo naquela ilha. Foram bons companheiros, aqueles ilhados. E hoje uma
depressão pós-série me deixa com muitas saudades.
Quando
chegou o final, já sabia que estavam todos mortos. Um amigo que acha graça em tirar
o mistério da vida dos outros (uma tristeza), me contou. De qualquer forma, não
perdi por um segundo a vontade de ver, porque algo me dizia que tinha muito a
se entender para além dessa constatação final de morte (ignorei o que me
disseram sobre o final e fingi que nunca tinha ouvido falar nisso). E eu estava certa. Eles
nem estavam mortos o tempo todo, como eu cheguei a pensar. Foram
muitas surpresas e emoções. Valeu a pena cada episódio. Alguns valeram mais a
pena do que outros. Nada mais épico do que o episódio “A constante”, quando (o
muito querido) Desmond consegue falar com sua amada Penny, depois de anos o
desejando e mesmo depois de tanto tempo (e tantas decepções), percebe que ela
ainda o ama. Duvido que alguém consiga terminar esse episódio sem desejar uma “constante”
para sua vida nesse sentido, ou se perguntar se um dia seria a “constante” de
alguém. Muitos episódios se ajuntam a esse na lista dos meus favoritos, o final
inclusive. O episódio final é belíssimo. Gostei muito da idéia de que pessoas
que foram muito importantes uma para as outras se esperam para seguir em frente
juntas, após a morte. Acho que no final o Jack estava certo e a sua máxima
na série, “Vive-se junto, ou morre-se sozinho”, acaba
ganhando um significado especial no episódio que terminou a jornada de Lost.
Poderia-se dizer, pelo final da série : “Vive-se junto e morre-se junto”. Toda
essa parte é só fantasia, claro. Não muito apropriada para se tirar lições, só
para se admirar a poesia. Mas foi uma boa poesia.
Acho
que esse é um texto meio sem sentido, sem propósito além de valorizar uma série
que muito amei e que muito me adicionou. Mas, valorizar algo , ou alguém que
amamos, pode ser um propósito mais importante do que um texto contendo grandes sabedorias do universo. Me despeço de Lost assim, já com saudades e a promessa
de rever a série, quando começar a esquecer os detalhes. E a indico, é claro,
para qualquer um que ame mistérios, mas principalmente para qualquer um que ame
gente. Porque antes de qualquer coisa, Lost foi pra mim uma série sobre
pessoas, pessoas reais, em seus limites, com problemas e questões muito reais.
Por isso é uma série que adiciona tanto. Antes mesmo de descobrir quem são “os
outros”, já estamos descobrindo um pouquinho quem somos nós, através de cada
história maravilhosa que nos é contada.
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